Descobri que Francis Bacon, o filósofo cientista, era chamado pela rainha Elizabeth de "Baby Salomon", Salomão bebê ("querido Salomão" é altamente improvável).
Parece que a rainha percebeu que o Baconzinho tinha grande inteligência e sabedoria.
Estava certa.
Entre outras façanhas, Bacon foi o primeiro a trabalhar na idéia que depois viraria geladeira.
Para preservar o bacon.
Friday, March 27, 2009
Thursday, March 19, 2009
Afogados na lama
Lendo Michael Walzer, Guerras Justas e Injustas, encontrei esta passagem, uma citação de Maquiavel (História de Florença):
Assim, a grande derrota dos florentinos em Zagonara: "nenhuma morte ocorreu [na batalha]", conta-nos Maquiavel, "exceto as de Lodovico degli Obizi e dois de seus homens, que, tendo caído do cavalo, morreram afogados na lama".
Fiquei me perguntando como três pessoas podem morrer afogadas na lama.
É verdade que a tecnologia, o aquecimento global e o aumento da população humana devem ter exercido algum efeito sobre a lama nos últimos séculos. A lama de antigamente devia ter mais de um metro e meio de profundidade.
Ou talvez o cuidado com o saneamento urbano, que na época de Maquiavel não existia, tenha impedido a lama de crescer. Ou a tenha feito encolher. Sei lá.
Dá prá imaginar um soldado caindo do cavalo, perdendo a consciência e morrendo afogado na lama. Mas três? Não é exagero?
Podia ser areia movediça, claro. Maquiavel talvez só conhecesse o termo "lama".
Mesmo assim, fiquei curiosa para saber como era a lama de antigamente.
Como meu tempo para cultura inútil infelizmente é zero, vou continuar sem saber.
Assim, a grande derrota dos florentinos em Zagonara: "nenhuma morte ocorreu [na batalha]", conta-nos Maquiavel, "exceto as de Lodovico degli Obizi e dois de seus homens, que, tendo caído do cavalo, morreram afogados na lama".
Fiquei me perguntando como três pessoas podem morrer afogadas na lama.
É verdade que a tecnologia, o aquecimento global e o aumento da população humana devem ter exercido algum efeito sobre a lama nos últimos séculos. A lama de antigamente devia ter mais de um metro e meio de profundidade.
Ou talvez o cuidado com o saneamento urbano, que na época de Maquiavel não existia, tenha impedido a lama de crescer. Ou a tenha feito encolher. Sei lá.
Dá prá imaginar um soldado caindo do cavalo, perdendo a consciência e morrendo afogado na lama. Mas três? Não é exagero?
Podia ser areia movediça, claro. Maquiavel talvez só conhecesse o termo "lama".
Mesmo assim, fiquei curiosa para saber como era a lama de antigamente.
Como meu tempo para cultura inútil infelizmente é zero, vou continuar sem saber.
Monday, March 16, 2009
Sócrates furioso
Antes tarde do que nunca.
Sócrates tinha uma paciência invejável, a julgar pelo testemunho de Platão e, claro, pelo modo como lidava com a mulher, Xantipa. Nem quando foi sentenciado, dizem as más línguas, Sócrates perdeu a paciência.
Exceto por uma vezinha só, momentos antes da morte, porque o mandaram calar.
Ninguém manda Sócrates calar, né?
Imagine. Se não escrevia, só podia filosofar falando.
No Fédon (63c), Críton explica a Sócrates que o homem responsável por lhe dar o veneno recomendou que não falasse muito, para não retardar a ação do veneno.
Sócrates respondeu, furioso:
- Dize-lhe que vá às favas! Ele que me dê o veneno duas ou três vezes, se for preciso!
Não foi preciso, mas devem ter descoberto que a fala não é tão poderosa assim.
Sócrates tinha uma paciência invejável, a julgar pelo testemunho de Platão e, claro, pelo modo como lidava com a mulher, Xantipa. Nem quando foi sentenciado, dizem as más línguas, Sócrates perdeu a paciência.
Exceto por uma vezinha só, momentos antes da morte, porque o mandaram calar.
Ninguém manda Sócrates calar, né?
Imagine. Se não escrevia, só podia filosofar falando.
No Fédon (63c), Críton explica a Sócrates que o homem responsável por lhe dar o veneno recomendou que não falasse muito, para não retardar a ação do veneno.
Sócrates respondeu, furioso:
- Dize-lhe que vá às favas! Ele que me dê o veneno duas ou três vezes, se for preciso!
Não foi preciso, mas devem ter descoberto que a fala não é tão poderosa assim.
Wednesday, March 11, 2009
Estratégia eficaz
"A afeição e ódio mudam a face da justiça; e quanto um advogado bem pago antecipadamente acha mais justa a causa que defende!" Pascal, Ensaios, 104.
A justiça é cega.
A justiça é cega.
Tuesday, March 03, 2009
Monarquia universal
Eis os argumentos de Dante a favor da monarquia universal (leia-se: império romano revivido):
"É pertinente ao povo mais nobre governar os outros, assim como é justo e conveniente que o homem mais nobre comande os demais. Toda supremacia é uma honra, então toda supremacia é recompensa da virtude".
É bem verdade que o entendimento de política, no período anterior a Maquiavel, associa a vitória e o poder à dignidade moral, mas isto é um equívoco, porque ignora as relações políticas, sociais e o mero exercício da força como condições que estão na base do poder.
"O ser cujo crescimento recebe o auxílio de Deus é querido de Deus e legítimo. O Império Romano recebeu ajuda de milagres para chegar à perfeição. Portanto, o Império Romano foi legítimo e querido de Deus".
Não sei a que milagres Dante se refere, mas nenhuma das afirmações acima pode ser demonstrada. É fácil imaginar sua validade para quem acredita na primeira premissa, mas é exatamente por apresentar razões religiosas para justificar uma tese política que como teórico político Dante foi bom soldado.
"Todo aquele que deseja o bem da República procura o fim do Direito. O fim da sociedade é o bem comum. Quem visa o bem comum visa também o Direito. O Império Romano visava o bem comum, porque suas guerras e conquistas acabaram com as hostilidades. Logo, o Império Romano visava o Direito".
Esse argumento é péssimo, porque usa o sucesso do imperalismo militar como prova de sua moralidade. As guerras e conquistas do império romano podem até ter acabado com as hostilidades, mas pela força.
"Quem se propõe o fim do Direito intenta subir legitimamente. Assim, o povo romano, sujeitando o orbe, procedeu legitimamente".
Mesmo argumento do anterior.
"A natureza hierarquiza os seres conforme suas aptidões. O fundamento do Direito se liga a esta ordem. O povo romano foi destinado ao comando pela natureza, nos moldes do já havia dito Aristóteles sobre as diferenças sociais entre os homens".
É verdade que o império romano foi bem sucedido devido à sua habilidade militar, mas daí concluir que a natureza, que diferenciaria os seres humanos em mais aptos e menos aptos militarmente, é um pouco demais.
"As intenções divinas são ora evidentes, ora ocultas e se dão a conhecer pela razão e pela fé. Neste caso, a salvação e a justiça. Mas há juízos de Deus que a razão humana não pode conhecer senão pela revelação, pela oração e pela prova. A prova pode se dar por sorte ou por combate (duelos), de onde podemos tirar duas teses:
a) Deus se interessa mais pela luta coletiva que pela individual. O triunfo é conseqüência do juízo de Deus. O povo que triunfou na luta pelo Império do mundo triunfou por juízo divino. b) O que se adquire em duelo se adquire legitimamente, desde que o duelo aconteça no desejo de se fazer justiça. O povo romano adquiriu o Império por duelo. Portanto, o fez legitimamente".
A crença de que a vitória no duelo é expressão da justiça (porque a vontade de Deus atuaria, e esta vontade é pela justiça) é própria deste período, e de épocas posteriores. Vá lá. É uma falácia, mas obedece à lógica do período.
"Cristo nasceu sob o Império Romano. Se este Império não foi legítimo, também não o foi o nascimento de Cristo. Como o nascimento de Cristo foi legítimo, segue-se que também o foi o Império".
Mesmo que o nascimento de Cristo tenha sido legítimo, seja lá o que isso quer dizer, não se segue que o império sob o qual ele nasceu seja também legítimo.
"Se o Império Romano foi legítimo, o pecado de Adão não foi punido em Cristo. Ora, sabemos que o pecado de Adão foi punido em Cristo. Logo, o Império Romano foi legítimo".
Esse argumento também é um assassinato à lógica. Não há relação necessária entre a legitimidade do império e o pecado de Adão punido em Cristo, ainda que aceitemos as duas afirmações em separado.
Ergo...
A posteridade fez bem em esquecer o livro A Monarquia. Nada acrescenta.
Mas, cá entre nós, acho que devíamos esquecer o poeta também.
"É pertinente ao povo mais nobre governar os outros, assim como é justo e conveniente que o homem mais nobre comande os demais. Toda supremacia é uma honra, então toda supremacia é recompensa da virtude".
É bem verdade que o entendimento de política, no período anterior a Maquiavel, associa a vitória e o poder à dignidade moral, mas isto é um equívoco, porque ignora as relações políticas, sociais e o mero exercício da força como condições que estão na base do poder.
"O ser cujo crescimento recebe o auxílio de Deus é querido de Deus e legítimo. O Império Romano recebeu ajuda de milagres para chegar à perfeição. Portanto, o Império Romano foi legítimo e querido de Deus".
Não sei a que milagres Dante se refere, mas nenhuma das afirmações acima pode ser demonstrada. É fácil imaginar sua validade para quem acredita na primeira premissa, mas é exatamente por apresentar razões religiosas para justificar uma tese política que como teórico político Dante foi bom soldado.
"Todo aquele que deseja o bem da República procura o fim do Direito. O fim da sociedade é o bem comum. Quem visa o bem comum visa também o Direito. O Império Romano visava o bem comum, porque suas guerras e conquistas acabaram com as hostilidades. Logo, o Império Romano visava o Direito".
Esse argumento é péssimo, porque usa o sucesso do imperalismo militar como prova de sua moralidade. As guerras e conquistas do império romano podem até ter acabado com as hostilidades, mas pela força.
"Quem se propõe o fim do Direito intenta subir legitimamente. Assim, o povo romano, sujeitando o orbe, procedeu legitimamente".
Mesmo argumento do anterior.
"A natureza hierarquiza os seres conforme suas aptidões. O fundamento do Direito se liga a esta ordem. O povo romano foi destinado ao comando pela natureza, nos moldes do já havia dito Aristóteles sobre as diferenças sociais entre os homens".
É verdade que o império romano foi bem sucedido devido à sua habilidade militar, mas daí concluir que a natureza, que diferenciaria os seres humanos em mais aptos e menos aptos militarmente, é um pouco demais.
"As intenções divinas são ora evidentes, ora ocultas e se dão a conhecer pela razão e pela fé. Neste caso, a salvação e a justiça. Mas há juízos de Deus que a razão humana não pode conhecer senão pela revelação, pela oração e pela prova. A prova pode se dar por sorte ou por combate (duelos), de onde podemos tirar duas teses:
a) Deus se interessa mais pela luta coletiva que pela individual. O triunfo é conseqüência do juízo de Deus. O povo que triunfou na luta pelo Império do mundo triunfou por juízo divino. b) O que se adquire em duelo se adquire legitimamente, desde que o duelo aconteça no desejo de se fazer justiça. O povo romano adquiriu o Império por duelo. Portanto, o fez legitimamente".
A crença de que a vitória no duelo é expressão da justiça (porque a vontade de Deus atuaria, e esta vontade é pela justiça) é própria deste período, e de épocas posteriores. Vá lá. É uma falácia, mas obedece à lógica do período.
"Cristo nasceu sob o Império Romano. Se este Império não foi legítimo, também não o foi o nascimento de Cristo. Como o nascimento de Cristo foi legítimo, segue-se que também o foi o Império".
Mesmo que o nascimento de Cristo tenha sido legítimo, seja lá o que isso quer dizer, não se segue que o império sob o qual ele nasceu seja também legítimo.
"Se o Império Romano foi legítimo, o pecado de Adão não foi punido em Cristo. Ora, sabemos que o pecado de Adão foi punido em Cristo. Logo, o Império Romano foi legítimo".
Esse argumento também é um assassinato à lógica. Não há relação necessária entre a legitimidade do império e o pecado de Adão punido em Cristo, ainda que aceitemos as duas afirmações em separado.
Ergo...
A posteridade fez bem em esquecer o livro A Monarquia. Nada acrescenta.
Mas, cá entre nós, acho que devíamos esquecer o poeta também.
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