Tuesday, December 30, 2008

Welles e o fim do mundo

Que Orson Welles tenha sido um grande diretor, Cidadão Kane é prova suficiente. Mas nunca achei que, como ator, passasse do medíocre ou do aceitável. Mesmo para uma época em que os atores agiam diante da câmera como se estivessem no teatro, Welles me parece inexpressivo.

Mas há um episódio que contradiz essa minha impressão: em outubro de 1938, quando ainda era desconhecido, Welles narrou, pelo rádio, "A Guerra dos Mundos", de H.G. Welles, que contava a invasão da Terra por Marcianos.

A dramatização foi tão perfeita que gerou pânico na audiência. O povo refugiou-se em abrigos ou saiu para comprar armas. Muitos tentaram se proteger do gás letal com toalhas.

No fim das contas, era só um bom narrador e um livro não tão bom assim.

Tuesday, December 23, 2008

John Gray e a Al-Qaeda (2)

"O que a al-Qaeda destruiu

Os guerreiros suicidas que atacaram Washington e Nova York em 11 de setembro de 2001 fizeram mais do que matar milhares de civis e demolir o World Trade Center. Eles destruíram o mito dominador do Ocidente.

As sociedades ocidentais são dominadas pela crença de que a modernidade é uma condição única, por toda parte a mesma e sempre benigna. À medida que as sociedades se tornam mais modernas, ficam mais parecidas. Ao mesmo tempo, tornam-se melhores. Ser moderno significa realizar nossos valores — os valores do Iluminismo, como gostamos de pensar.

Nenhum lugar-comum é mais espantoso do que o que descreve a al-Qaeda como uma revivescência da época medieval. Ela é um subproduto da globalização. Assim como os cartéis mundiais das drogas e as grandes empresas de comércio virtual que se desenvolveram nos anos 1990, evoluiu numa época em que a desregulamentação financeira criou grandes reservatórios de riqueza no estrangeiro e o crime organizado tornou-se global. Sua característica mais distintiva — planejar uma forma privatizada de violência organizada no mundo inteiro — seria impossível no passado. Do mesmo modo, a crença de que um mundo novo pode ser apressado por atos espetaculares de destruição não se encontra em parte alguma na época medieval. Os precursores mais próximos da al-Qaeda são os anarquistas revolucionários da Europa do final do século XIX.

Quem duvidar que o terror revolucionário é uma invenção moderna resolveu esquecer a história recente. A União Soviética foi uma tentativa de corporificar o ideal iluminista de um mundo sem poder nem conflitos. Em busca deste ideal, matou e escravizou dezenas de milhões de seres humanos. A Alemanha nazista cometeu o pior ato de genocídio da história. E o fez com a meta de criar um novo tipo de ser humano. Nenhuma era anterior abrigou projetos assim. As câmaras de gás e os gulags são modernos.

(...)
Sempre houve desacordo sobre a natureza deste mundo novo. Para Marx e Lenin, seria uma anarquia igualitária e sem classes; para Fukuyama e os neoliberais, um livre-mercado universal. Tais visões de um futuro alicerçado na ciência são muito diferentes; mas de forma alguma isso enfraqueceu o domínio da fé que expressam.
Por meio de sua influência profunda sobre Marx, as idéias positivistas inspiraram a desastrosa experiência soviética de planejamento econômico centralizado. Quando o sistema soviético entrou em colapso, elas ressurgiram no culto do livre-mercado. Passou-se a acreditar que apenas o “capitalismo democrático” de estilo norte-americano é verdadeiramente moderno e que se destina a espalhar-se por toda parte. Quando isso acontecer passará a existir uma civilização universal e a história chegará ao fim.

Isso pode parecer um credo fantástico, e é. O mais fantástico é ainda ter o crédito de muita gente. Configura os programas dos principais partidos políticos de todo o mundo. Guia as políticas de instituições como o Fundo Monetário Internacional. Anima a “guerra ao terror”, na qual a al-Qaeda é vista como relíquia do passado.
Esta visão é, simplesmente, errada. Como o comunismo e o nazismo, o islamismo radical é moderno. Embora alegue ser antiocidental, é configurado tanto pela ideologia do Ocidente quanto pelas tradições islâmicas. Como os marxistas e os neoliberais, os islamitas radicais vêem a história como o prelúdio de um mundo novo. Todos estão convencidos de que podem refazer a condição humana. Se há um mito exclusivamente moderno, é esse."

(...)

-----

GRAY, John. Al-Qaeda e o que significa ser moderno. Rio : Record, 2004.

Monday, December 22, 2008

Salve-se quem puder

Ainda sobre Paul Virilio, encontrei algumas informações na Wikipedia (que não é lá a melhor referência, eu sei). Eis uma lista parcial dos livros publicados por este filósofo:

* City of Panic. Cidade do pânico.
* The Accident of Art. O acidente da arte.
* Negative Horizon: An Essay in Dromoscopy. Não sei o que é dromoscopia, mas Horizonte Negativo já está de bom tamanho.
* Art and Fear. Arte e medo.
* Crepuscular Dawn. Aurora crespuscular.
* The Information Bomb. A bomba informática.
* Strategy of Deception. Estratégia de Engano.
* Politics of the Very Worst. Política do pior.
* Polar Inertia. Inércia polar.
* The Aesthetics of Disappearance. A estética da desaparição.
* Lost Dimension. Dimensão perdida.
* War and Cinema: The Logistics of Perception. Guerra e cinema.

Cruzes!

Ainda não li este senhor, mas já estou preocupada.

Será o benedito?

Sunday, December 21, 2008

Perigo! Perigo!

Tolos, incautos, incipientes, insipientes e infiéis de todo o mundo: arrependam-se antes que seja tarde.

Ainda é tempo.

Fujam da tentação da máquina. Salvem suas almas.

Você pode. Você deve. Mas seja rápido porque o anticristo está chegando.

A besta do apocalipse, a máquina humana, marcará a todos com seu número: 666 (mas pode ser também identidade, cpf, telefone fixo, celular, ID, login, senha, cartão de crédito, cartão de débito, ou até mesmo pis/pasep).

Quem avisa amigo é.

O amigo, no caso, é um certo Paul Virilio, o profeta da destruição do homem pela máquina, o filósofo que fez de 2001 - Uma Odisséia no Espaço um cult de ação.

O livro, A Bomba Informática, explica o que acontecerá a todos nós se deixarmos que HAL domine nossas vidas e roube nossa identidade.

Não, ainda não li. Mas juro que vou tentar.

Será que ele sabe enviar e-mails?

Saturday, December 20, 2008

Perfume de Cristo (2)

E não é que Cristo era mesmo cheiroso?

Arqueólogos [franciscanos] encontraram, na cidade de Magdala, em Israel, vasos de perfume similares aos usados por Maria Madalena, na época de Cristo.

O capeta pergunta: como é que sabem disso?

Ah, o carbono 14! E depois, o perfume e os cremes são similares aos usados na época.

O capeta ainda quer saber: o que isso tem a ver com Cristo?

É que Maria Madalena lavou os pés de Jesus, entende?

Pelo menos já sabemos que os pés cheiravam bem. Isso já representa um grande avanço.
Científico e religioso, se se considerar que o cientista em questão é um padre.

Friday, December 19, 2008

Perfume de Cristo (1)

A freira queniana Anna Hadija Ali sempre foi noiva de Cristo, mas nunca tinha visto o noivo, exceto por imagens. Mais importante, já que ela pretende se casar com ele quando Deus assim o permitir, ela não sabia dizer se ele era um homem perfumado ou se cheirava mal.

De qualquer forma, não teve de esperar tanto assim.

Não, ela não morreu. Jesus é que veio vê-la. Perfumado.

Anna Ali contou recentemente que desde 1987 Jesus a visita todas as quintas-feiras.

É sério. Ela chegou até a fotografá-lo com lágrimas de sangue. E logo passou também a derramar lágrimas de sangue.

Lembrei daquela musiquinha horrorosa:

É o amor, é o amor...
Que mexe com minha cabeça
E me deixa assim...


Para completar, o vale de lágrimas derramado pela feliz noiva de Cristo exala um "extraordinário aroma de frescor".

Hã-hã.

Ela garante que é o perfume de Cristo. Que ficou impregnado nela.

Hã?

Já não se fazem mais noivas como antigamente. Fim dos tempos.

Mas fim dos tempos mesmo é adultos acreditando nessa história. Os fiéis, claro, porque os superiores da superiora, aposto que não acreditam. Apenas acham a história útil.

E não é?

Thursday, December 18, 2008

Difícil é eufemismo

Procurando algo sobre "paradigmas" no Youtube, encontrei o video "Mudar paradigmas é difícil".

Perfeito.

Quem já ensinou um neófito a usar o computador vai se deliciar com este video.

Clique no título deste post.

Tuesday, December 16, 2008

John Gray e a Al-Qaeda (1)

Junto com Peter Singer, John Gray é um dos filósofos que mais tenho apreciado ultimamente.

Nada a ver com o escritor de livrinhos de auto-ajuda, tá? Aquele de "Mulheres são de Vênus e etc". Estou me referindo ao filósofo britânico autor de "Cachorros de Palha".

Então. Li recentemente "Al-Qaeda e o que significa ser moderno". Apesar de ser um tanto repetitivo, para quem já tinha lido "Cachorros de Palha", este livro é um achado. Assim como Peter Singer em "Um só mundo: a ética da globalização", John Gray trabalha insistentemente com a idéia de unidade. Para rebatê-la.

A premissa básica é que a Al-Qaeda não é medieval, como muitos gostam de pensar. Não se trata, no entendimento de Gray, de uma mentalidade bárbara, ultrapassada, que insiste em lutar contra a civilização e a modernidade. É difícil não pensar assim, quando Osama mais parece um ícone vivo do estilo de vida e da visão de mundo de um beduíno autêntico, ou a desastrosa reencarnação daquele velhinho da montanha, do século XII, que ordenava a seus homens que pulassem da montanha para a morte simplesmente para provar que tinha poder. Mas John Gray tem razão.

Para ele, a Al-Qaeda é tão moderna em seus princípios e métodos quanto o nazismo e o comunismo. Todos eles queriam (ou querem) reformar o mundo com base na idéia de que é preciso salvar o homem, e que só é possível fazê-lo pela unidade de discurso.

Nossa herança positivista nos faz acreditar que só há um modo de ser "moderno". Gray mostra que há outros modos, mas que todos eles trazem em seu bojo o desejo de um mundo melhor e de um homem melhor que só pode ser obtido pela eliminação da diferença.

O livro é claro, bem escrito e bem fundamentado. Vale a pena ler.

Sunday, December 14, 2008

Lesbos e lésbicas

Os moradores de Lesbos, ilha grega do Egeu, consideram um insulto o termo "lésbica".

Nada contra o homossexualismo, suponho. O problema é a associação do homossexualismo com a ilha, pátria da poetisa Safo, que sabidamente preferia mulheres a homens. Aliás, a maior parte das mulheres de Mitilene, capital de Lesbos. Mas isso não devia ser problema, já que os homens preferiam os homens.

O resto é família.

De qualquer forma, entraram na justiça contra o uso do termo. Causa perdida. Pura perda de tempo. Mesmo que ganhassem, seria preciso muito mais que um veredito da justiça grega para mudar um termo tão corrente e, digamos, internacional.

Bem, perderam e agora têm de pagar os custos do processo.

Agora, cá entre nós: quem é que pensa na ilha de Lesbos, ao falar em lesbianismo? Pelo menos fora da Grécia isso é absolutamente irrelevante.

Saturday, December 13, 2008

Boa sorte no além

Já dizia Platão (Fédon 64a):

"O homem que realmente consagrou sua vida à filosofia é senhor de legítima convicção no momento da morte, possui esperança de ir encontrar para si, no além, excelentes bens quando estiver morto".

Só se for quando estiver morto. Mas será uma morte gloriosa e sorridente, passagem para um além-vida melhor ainda.

E o melhor de tudo é que não terá de reencarnar. Viverá eternamente na glória, ao lado de outros anjos-filósofos.

Que beleza!

Alguém ainda gostaria de matar vampiros?

Ow, eles descobriram a chave para a imortalidade!

Thursday, December 11, 2008

O juramento de Hipócrates

Em tempos de maus médicos e estudantes de medicina piores ainda, não faz mal lembrar o juramento de Hipócrates:


"Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higia e Panacéia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte.

Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.

Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.

Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

Thursday, December 04, 2008

Quem inventou a dieta?

Segundo Jean-Jacques Rousseau (Segundo Discurso, col. Os Pensadores, p. 12), foi Hipócrates (460-377 a.C.), aquele grego descendente de Asclépio, o deus da medicina, e que criou o juramento proferido por todo formando de medicina, mesmo os baderneiros.

Hipócrates acreditava que o organismo humano é composto de quatro humores: sangue, fleuma, bílis amarela e bílis preta. A medicina, então, consistiria em manter o equilíbrio destes humores. A dieta teria um papel importante neste equilíbrio.

Como parece que só repetimos o que há muito já se julgava saber, fico me perguntando se não estamos eternizando um erro. Mas vá saber.

Sunday, November 30, 2008

Cuidado com as festas

Uma tal Mary Sanford, de 39 anos, bebeu vinho e dançou em volta de uma fogueira. Nada de mais, se isso não tivesse acontecido em 1662 em Connecticut. O resultado foi a condenação por bruxaria e o consequente enforcamento.

O problema, claro, não era o vinho, mas a dança. Afinal, Cristo também bebia vinho. É verdade que ele também dançou, mas uma vez só. De qualquer forma, as mulheres ciosas de seus maridos devem ter-se sentido ameaçadas pela dança. Ou os homens, ciosos de sua respeitabilidade. Ou vai ver que a dança era só o pretexto, e que outras atitudes dela já estavam incomodando os homens respeitáveis e suas esposas cuidadosas. Vá saber.

Bem. O fato é que a Assembléia Legislativa do estado de Connecticut deve absolver Sanford do "crime". Devia era indenizar os descendentes.

À parte esta história absurdamente trágica, fico me perguntando como as pessoas podem achar que a religião é capaz de tornar os homens melhores, quando o que menos importa a um fanático religioso é a vida. A sua, e a dos outros.

Tuesday, November 25, 2008

Sabá é logo ali

Então.

A rainha de Sabá não só existiu, como tinha um palácio também.

Lembra-se da rainha de Sabá, aquela que seduziu Salomão, ou foi seduzida por ele, e de quebra levou para sua terra um filho e a arca da aliança e ainda virou filme de Hollywood, na pele de Gina Lollobrigida?

Pois é. O lendário palácio da lendária rainha da lendária Sabá foi encontrado, claro, na Etiópia (quem ainda não sabia que ela era sabatiana-etíope?). Bem, não é que ele foi encontrado exatamente, entende? Foram encontradas, isto sim, ruínas de um antigo palácio por aqueles que estavam procurando o palácio da lendária Sabá e queriam muito encontrar o palácio da lendária Sabá. Logo, encontraram o lendário palácio da lendária rainha de Sabá. Na Etiópia.

Por enquanto é isso. É verdade que há uma relação estreita entre mitos e realidade histórica, e a rainha deve ter mesmo existido, já que alguns relatos bíblicos foram comprovados pela ciência (vide E a Bíblia tinha razão). Mas, a não ser que indícios fortes comecem a relacionar o palácio encontrado com a mãe de um dos mil filhos de Salomão, o que acho bastante improvável, o que existe por enquanto é apenas o efeito Schleimann.

Saturday, November 15, 2008

Livros raros

Quer um site onde pode encontrar - e baixar - livros raros, sejam acadêmicos ou literários? Clique no título desde post. O site é o gigapedia, com livros sobretudo em inglês. Terá de se cadastrar, mas é coisa pouca. Só email, login e senha.

Faça a pesquisa marcando o "item search". Você ficará surpreso com o que pode encontrar.

Saturday, November 08, 2008

Vá trabalhar, vagabundo

Para festejar meu retorno:

TV ligada não é só prá quem vê; é também prá quem ouve.

Ouvi outro dia, em uma novelinha teen, a diretora de uma escola dizer a um grupo de estudantes que conversava no pátio da escola, no horário da aula:

"Vá estudar, cambada. Vocês vieram aqui prá estudar, não para filosofar!".

Puxa. E eu que pensava que filosofia exige estudo, disciplina, esforço pessoal. E trabalho, muito trabalho.

Pensava também que a filosofia exigia investimento de tempo, de muito tempo.

Parece que me enganei. Filosofia é prá quem não tem o que fazer.

Ou para quem quer fugir das obrigações.

Saturday, November 01, 2008

A quem interessar possa

Se houver ainda quem leia este brogue, informo que estou de volta.

As razões para o afastamento do mundo virtual durante alguns meses são muitas, mas vou resumir todas em uma só: apelos da vida real impossíveis de ignorar. Mas como a vida não se faz apenas de realidade, eis-me de volta. Espero continuar ainda por um bom tempo me divertindo por aqui.

E vamo que vamo!

Viva o virtual!

O resto... é o que resta.

Thursday, June 26, 2008

O canto do bode

Descobri que "tragédia" em grego significa "canto do bode" (Jacqueline de Romilly, A tragédia grega, p. 17).

A autora apresenta a hipótese, recusada por ela, de que "bode" se refira aos sátiros, associados ao culto a Dioniso que, por sua vez, é um deus ligado às artes.

Lembrei da piada do bode.

Ter um bode morando na sala de casa é a verdadeira tragédia.

O resto é bobagem.

Friday, June 20, 2008

Meteorosofista

Você sabe o que é um meteorosofista?

Confesso que não fazia idéia, até encontrar em Kerfeld (O movimento sofista), a explicação: trata-se de um sofista superior.


Meu problema agora é saber que sofistas são superiores, superiores em quê, e quem é que decide que sofistas são superiores.

E eu que pensava que eram todos inferiores.

Friday, June 13, 2008

Você pode ver fantasmas?

Aproveitando que deixei todas as minhas obrigações de lado para me ocupar com fantasmas, encontrei sem muito esforço um website em que fiz o teste para saber se tenho competência espiritual para ver fantasmas.

Clique no título deste post e faça o teste você também.

Isto, se não formos todos espiritualmente incompetentes.

Mas vá lá. As perguntas são no mínimo divertidas:

1. Você se recusaria a passar uma noite numa casa assombrada?
-- Ow, o que um possível medo de casa assombrada tem a ver com o fato de ver um fantasma? Ah... é porque eles estão lá! Dãããã!
Se for preciso ter medo de casa assombrada para ver fantasma, estou perdida. Não tenho medo de casas.

2. Você medita?
-- Não, fio. Mas o que isso tem a ver com fantasma?

3. Você usa preto 90% (ou mais) do tempo?
-- Ué, não. Por que? O preto atrai fantasmas?

Bem, chega.

O resultado?

Minhas habilidades psíquicas não estão inteiramente desenvolvidas.

Que novidade.

Cá entre nós: alguém precisa realmente fazer esse teste?

Só se for mesmo para fugir das obrigações.

Wednesday, June 11, 2008

Como falar com fantasmas

Ops! Outro website interessantíssimo!

Ouvir fantasmas requer método.

Ver fantasmas requer método.

Consequentemente, falar com fantasmas requer método.

Com uma lógica como essa, que posso fazer?

Pensar no que dizer ao fantasma quando o ouvir ou vir, claro!

Então.

Que posso dizer a um fantasma?

Perguntar se levou um mapa do inferno?

Se passou por uma terapia espiritual?

Se ficou internado no hospital dos espíritos?

Se já aprendeu a não ser escaldado?

Se já recebeu pés?

Se já entrou no cepo?

Se já aprendeu a beber água?

Acho que seria melhor simplesmente dizer "xô!". Se ele ouvir, resolve logo o assunto.

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No mundo da técnica, só faltava mesmo a técnica para contactar o imaginário.

Como se fosse preciso.

Tuesday, June 10, 2008

Como ver e ouvir fantasmas

Encontrei por acaso o site linkado no título que ajuda a ver fantasmas. Pensei: oba, finalmente!

Mas o site envia o esperançoso para outros websites, e não tive paciência para fazer a jornada. Queria ver fantasmas sem fazer esforço, sem ter de ler páginas e páginas de instruções. Queria ver e pronto.

Mas vai ficar para outra vez.

Vai ver que ainda não estou pronta.

Quem sabe quando aposentar eu tenha tempo para estudar a técnica.

Sunday, June 08, 2008

Farejador de plágios

Para ladrão de galinha, cerca. Para ladrão de carros, alarme. Para ladrão de casas (ops! assaltante), tranca.

E agora, senhoras e senhores, para ladrão de idéias, o magnífico, supreendente farejador de plágio!

Clique no link, baixe o programa e seja um feliz farejador de plágio.

Ou um infeliz plagiador farejado, se não farejar antes de plagiar.

Brincadeiras à parte, esta é uma nova ferramenta da internet. Ao menos, nova para mim.

Sem dúvida, de grande utilidade para professores.

E uma péssima idéia para quem não tem idéia.

Friday, June 06, 2008

Ode à preguiça

Sabemos que boa parte das fábulas infantis são gregas. Muitas são inspiradas em Esopo, especialmente as que têm animais falantes. Outra parte é inspirada nas histórias da mitologia (Eros e Psyché, p. ex., virou A bela e a fera).

Mas, olha que gracinha, Platão quase conta, no Fedro (259c), a história da cigarra e da formiga:

"Diz-se que outrora, antes do nascimento das Musas, as cigarras eram homens. Mas, quando as Musas surgiram e apareceu o canto, alguns dos homens dessa época sentiram-se de tal maneira arrebatados pelo prazer da música que, à força de cantar, descuidaram o alimento e a bebida e morreram sem dar por isso. Deles nasce, então, a raça das cigarras... Por muitas razões, portanto, devemos conversar, e não dormir, na hora do meio-dia".

A hora do meio-dia aqui, é claro, refere-se à idade adulta, entre a manhã (infância) e a tarde (velhice).

Então.

Tuesday, June 03, 2008

Escrita assassina

No Fedro de Platão, Sócrates é contrário à escrita, porque entende que ela mata o pensamento. A escrita é estática, enquanto o pensamento é dinâmico. Logo, uma vez escrito, o pensamento estratifica e morre.

Trocando em miúdos, a escrita é rigor mortis do pensamento.

Ainda bem que ninguém deu ouvidos a ele.

O legislador Sólon, que tornou compulsório o ensino da leitura e da escrita, devia estar se revirando na cova.

Veja a passagem, resumida:

"Uma vez escrito, todo o discurso rola por todos os lugares, apresentando-se sempre do mesmo modo, tanto a quem o deseja ouvir, quanto a quem não mostra interesse algum, e não sabe a quem deve falar e a quem não deve (Fedro 275d-e)."

Na sequência, Sócrates argumenta que a escrita faz com que a leitura aliene o pensamento: ninguém é capaz de pensar por conta própria, já que opiniões prontas estão à disposição de qualquer um. Isto acontece com frequência, mas o problema não está na escrita, e sim em quem se serve dela para alimentar sua preguiça intelectual e escondê-la até de si mesmo.

Menos, Pratão. Menos.

Sunday, June 01, 2008

Professor reflexivo?

Ouvi de uma colega que a nova moda entre os professores é a figura do "professor reflexivo".

Segundo a explicação, trata-se de um novo modo de conceber o educador: ele tem de pensar criticamente sua prática, sua escola e a educação como um todo. Tem de levantar dúvidas sobre seu trabalho de modo crítico e autônomo, o que é feito em reuniões em que o professor apresenta aos colegas o plano de aula, a abordagem escolhida, a metodologia empregada e os problemas que surgirem, de modo a ouvir críticas e sugestões dos colegas, e de ser capaz de elaborar, ele mesmo, críticas a seu trabalho e à sua atividade.

Não creio que essa razão, que me parece ser meramente instrumental, vá além da técnica e de um conceito de crítica que não ultrapassa o "como fazer" e se mede por resultados não qualitativos, mas quantitativos.

Ser reflexivo, no melhor sentido, significa bem mais que um exercício de crítica e auto-crítica mecânico.

Saturday, May 31, 2008

De como se dar bem no mundo inferior

Comprei esta semana uma tradução do Livro dos Mortos, dos antigos egípcios (O livro egípcio dos mortos, E.A. Wallis Budge, Editora Pensamento). Não dá nem prá pensar em ler agora. Estou ocupadíssima com outras leituras. Em todo caso, sempre tive muito interesse em ler esse material, para saber exatamente do que se trata, e não resisti de folhear o livro. Encontrei títulos no mínimo curiosos, sob um olhar alheio. Eis alguns desses títulos:

- De como fazer retroceder o comedor do burro
- De como acabar com as matanças levadas a cabo no mundo inferior
- De como não perecer e tornar-se vivo no mundo inferior
- De como não sofrer corrupção no mundo inferior
- De como não entrar para o cepo
- De como aspirar o ar entre as águas no mundo inferior
- De como beber água no mundo inferior
- De como não ser escaldado com água
- De como sair à luz no mundo inferior
- De como receber os pés e sair sobre a terra
- De como viajar para anu (heliópolis) e ali receber um trono
- De como operar a transformação num falcão
- De como conduzir um barco no céu
- De como chegar ao porto
- De como fazer recuar o crocodilo que vem buscar as palavras mágicas da alma imortal no mundo inferior
- De como sair da rede
- De como não morrer pela segunda vez

Eu até tentei ler alguma coisa das passagens relativas a esses títulos, mas não entendi lhufas. Quem sabe, quando começar do começo, venha a entender.

Por ora, tudo isso me parece o que o sofista Lícofron disse da nobreza: "Excelência imaginária".

Wednesday, May 28, 2008

Hê pornê

Quem leu Platão sabe bem que os sofistas eram prostitutas do saber, já que vendiam conhecimento.

Mas, como bem observou o historiador Grote (e Bertrand Russell, em sua História da Filosofia), o que ninguém parece perceber é que um professor moderno, ao cobrar para ensinar, e sobretudo repetir que quem recebe para ensinar não passa de pornê do saber, está afirmando que ele próprio, o douto imitador de Platão, é uma prostituta (ou prostituto, tanto faz).

Se cobrar para ensinar é prostituição, então quem ensina sob pagamento é o quê, fio?

Lembrei daquele político americano que disse, indignado com um adversário: "Esse idiota devia ser escoiceado até a morte por um asno, e eu sou o indicado para fazer isso".

Bastante reflexivo, sem dúvida.

No sentido mais puro.

De espelho, quero dizer.

Saturday, May 24, 2008

Riso falso

O diabólico no riso falso está justamente em que ele é forçosamente uma paródia até mesmo daquilo que há de melhor: a reconciliação.

Theodor Adorno

Tuesday, May 20, 2008

Kantianamente falando

Kantianamente falando, tenho observado ultimamente a frequência irritante com que nomes próprios de pensadores têm sido transformados em advérbios por intelectuais.

Será que platonicamente falando, ou cartesianamente falando, ou hegelianamente falando, ou espinosianamente falando, ou husserlianamente falando, ou sartreanamente falando, ou aristotelicamente falando, ou o-raio-que-o-partamente falando, esse modo de falar adverbianamente de modo quer dizer que intelectualmente falando está-se falando de modo crítico, douto e reflexivo?

Ou melhor, será que kantianamente falando está-se falando doutamente, criticamente e reflexivamente... falando?

Será que academicamente falando ninguém pára pra pensar que adverbianamente falando está-se apenas repetindo chavões tolos e sem sentido, que negam justamente aquilo que popperianamente falando querem, adverbianamente falando, fazer parecer?

Mas sei lá. Vai ver que estou estupidamente falando e devo sim, inteligentemente falando, aderir à moda do advérbio de modo, ainda que isto signifique, rigorosamente falando, logicamente falando, rigorosamente nada.

Marcuseanamente falando, eis aí o fechamento do universo da locução.

Minimamente falando.

Sunday, May 18, 2008

Filosofia da brevidade

Comentei aqui, há algum tempo atrás, que Aristóteles afirmava terem sido os Lacedemônios (os espartanos) os inventores da comédia. A afirmação de Aristóteles me causou estranheza porque conhecemos os espartanos, descendentes dos dórios, como um povo que abolia o cultivo do espírito. Hoje, encontrei em Platão (Protágoras) a afirmação de que os Lacedemônios são grandes filósofos, e que a alma desta filosofia é a brevidade.

Ainda bem que é a filosofia da brevidade. Caso contrário, o termo "lacônico" terá de sair do dicionário.

Lacônico significa quem fala muito pouco ou quase nada (designava quem é oriundo da Lacônia, planície onde estava Esparta e, por essa razão, significa quem é monossilábico, já que os espartanos eram treinados para expressar-se com o mínimo possível de palavras).

Só não sei como é possível filosofar em poucas palavras.

Pensando bem, é possível. Os discípulos de Sócrates dialogavam com ele em pouquíssimas palavras:

Sim.

Exatamente.

Bem o dizes, ó Sócrates.


Que queres dizer?

Absolutamente correto.

É verdade.

Tens razão, Sócrates.

Perfeitamente justo.


Só não dá para divergir em poucas palavras. Neste caso não se trata de filosofar, e sim de dizer "não porque não". Ou seja, quando divirjo em poucas palavras, afirmo minha subjetividade, e é só (porque não posso argumentar somente com um "não"). Quando confirmo com poucas palavras, filosofo.

Faz sentido. Para os lacedemônios.

Friday, May 16, 2008

Problema com o problema

Li em Guthrie (Os Sofistas, Ed. Paulus, p. 233, em nota de rodapé para a palavrinha meritocracia):

"Temo que seja tarde demais para eliminar este termo bastardo e feio [meritocracia], substituindo-o por seu meio-irmão 'axiocracia'."

Filura de intelectual. Aliás, de intelectualíssimo, caso contrário isso não seria um problema.

Eu não sabia que há termos bastardos. Feios, vá lá. "Afoito" é uma palavra no mínimo engraçada. O mesmo para "Faminto". Há cacofonias também, como em "uma mala" e "ser do ente", assim como há expressões que simplesmente soam mal, como "bom dia". Mas bastardos? O que isso quer dizer?

Mas vá lá. Abaixo a meritocracia! Abaixo os termos bastardos! Abaixo o governo do mérito! Governo do 'axio' já! Ditadura do 'axio' já!

Fica muito mais bonito dizer 'axiocracia", ainda que seja 'cracia', 'kratos', governo, do mesmo jeito. Mas que sejam abolidos os termos feios!

Isso tudo é muuuuito importante!

E tenho dito.

Sem mérito algum.

Wednesday, May 14, 2008

Morte por excesso de anéis

Quem é vivo morre. Morre-se cedo, morre-se por acidente, doença, "causas naturais", mas nunca ouvi falar que alguém pudesse morrer por excesso de anéis. E não é que um papa morreu assim?

Pesquisando sobre Rodrigo Bórgia, descobri que o papa Paulo II, Eugênio Barbo, cujo papado durou de 1464 a 1471, morreu em decorrência de uma pneumonia causada pela quantidade exagerada de anéis que usava em clima frio.

Devíamos elevá-lo à categoria de "mártir dos anéis", ao menos pela originalidade. É difícil superar essa marca.

Talvez não. Talvez deva ser o mártir dos anéis pelo excesso de zelo com a tradição. Também é difícil superar essa marca.

Sunday, May 11, 2008

Richter , ou a arte da provocação

Ouvi outro dia, a respeito dos filmes de Hans Richter, precursor do cinema de vanguarda, o argumento de que a verdadeira arte é a que fica. A prova de que o cinema de Richter tem valor reside no fato de que até hoje nos sentimos afetados por ele de algum modo, já que até hoje falamos sobre ele e elaboramos teses e dissertações acerca de seus filmes (ainda que em círculos restritos).

Bem, eu faço uma outra leitura dessa "permanência" de Richter no cenário intelectual: nós ainda falamos sobre ele porque até hoje não compreendemos o que quis dizer (se é que quis dizer alguma coisa). Continua obscuro. Logo, continua instigante.

A afirmação da relevância com base na duração é legítima, sem dúvida. Cristo está aí até hoje, assim como Buda, Maomé e Elvis Presley. Mas não creio que o argumento da relevância histórica possa ir além disso e permitir inferir dela a qualidade do que é avaliado. Isto não significa, claro, afirmar que o cinema de Richter não tem valor. A ressalva é quanto à natureza da defesa deste valor.

Thursday, May 08, 2008

Parmênides critica Sócrates

Platão conta, no diálogo Parmênides, que o próprio e seu discípulo Zenão encontraram-se com Sócrates. O filósofo ateniense, para se opor à tese de Parmênides defendida por Zenão, apresenta a sua Teoria das Formas.

A teoria é inaceitável para Parmênides porque supõe a unidade e a multiplicidade (ou a contradição, ainda que apenas para o múltiplo).

Eis o primeiro argumento do filósofo de Eléia:

Se as coisas particulares participam da forma da beleza, ou da semelhança, ou da extensão, elas são ou bonitas, ou semelhantes, ou extensas. Cada coisa particular deve receber ou o todo da forma de que participar, ou uma parte. De um modo ou de outro, a forma se torna múltipla. No primeiro caso, por multiplicação. No segundo, por divisão. Em qualquer dos casos, não será una.

A resposta de Sócrates, embora tímida, é ótima e se resume na afirmação de que as formas são paradigmas, não coisas sensíveis, que podem ser divididas ou multiplicadas.

Ow, Parmênides, quer medir idéia com esquadro?

O mais interessante no diálogo entre Sócrates e Parmênides é a imagem do jovenzinho promissor, mas ainda ingênuo e incipiente, apresentando problemas para gente grande pensar. Lembrei-me de Cristo conversando com os doutores do templo.

Monday, May 05, 2008

Apareceu o oportunismo

Uma tal Teresa de Lisieux é uma santa esperta. Começou a aparecer poucos dias antes do ataque terrorista ao World Trade Center. Alguns moradores de Nova Iorque garantem ter visto a santa na noite de 4 de setembro e nas cinco noites seguintes, até o dia do ataque, avisando que coisas terríveis iriam acontecer muito em breve.

Cá entre nós: de que vale a santa aparecer para dizer que coisas horríveis vão acontecer? Quem é que pode se precaver com um aviso tão vago assim?

Bem, eu vou participar da festa e prever que coisas terríveis vão acontecer brevemente.

Se for um terremoto em qualquer parte do mundo, está valendo.

Se for um ciclone, igualmente.

Um desabamento? Acertei.

Um tsunami? idem.

A morte de uma figura da política internacional? Acertei.

Um ator? Uma atriz? Um cantor? Acertei também (pode ser terrível, sim. Até hoje não superamos Elvis).

Como disse, a santa é esperta. Sua previsão é infalível.

Sobretudo, porque foi feita dois anos depois do 11 de setembro.

Saturday, May 03, 2008

Relevo selvagem

"Quem quereria denominar sublimes também massas informes de cordilheiras amontoadas umas sobre outras em desordem selvagem com suas pirâmides de gelo, ou o sombrio mar furioso etc.?"

Kant, Crítica da Faculdade de Julgar, 26.

Thursday, May 01, 2008

Diversão não

"As pessoas querem divertir-se. Uma experiência plenamente concentrada e consciente de arte só é possível para aqueles cujas vidas não colocam um tal stress, não impõem tanta solicitação, a ponto de, em seu tempo livre, eles só quererem alívio simultaneneamente do tédio e do esforço." (Theodor Adorno, Sobre a Música Popular)

A julgar pelo que Adorno diz no parágrafo acima, querer diversão, querer alívio do tédio e do esforço é condição de impossibilidade de apreciação da arte.

A medida de avaliação da arte (se boa ou não) deve ser externa a ela?

Wednesday, April 30, 2008

Espíritos da antiguidade

Sabe aquelas almas penadas que rondam os cemitérios à noite?

Pois é, na Grécia Antiga elas também davam sinal de vida: rondavam monumentos funerários e sepulturas.

Platão explica: os espectros vistos vagando por aí nada mais são que almas desencarnadas que, quando em vida, estavam presas ao mundo visível. Logo, após a morte do corpo continuam ligadas à matéria e são, portanto, visíveis.

Já reparou que nenhum vidente alega ter visto o espírito de um filósofo?

Não, não. Isso não tem nada a ver com o desinteresse dos videntes (e dos viventes) pelas almas filosóficas, e menos ainda com a pouca cultura dos videntes. A explicação é muito mais profunda: as almas dos filósofos vão para o paraíso das idéias, viver a vida eterna do pensamento. E ficam por lá.

Ow, não precisa ter medo de estudar filosofia. Pode até ser que você fique preso no mundo das idéias e não encontre emprego, mas garanto que não vai começar a ver fantasmas. Isso não. Filósofo não volta prá assombrar ninguém.

Talvez porque não acredite muito na vida, vá saber.

E depois, já virou idéia.

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Eis a passagem:

"E uma vez que é este o conteúdo de tal alma, por ele é que ela se torna pesada, atraída e arrastada para o lugar visível, devido ao medo que lhe inspira o que é invisível e o que chamamos de país do Hades; essa alma ronda os monumentos funerários e as sepulturas, ao redor dos quais de fato foram vistos certos espectros sombrios, de almas, imagens apropriadas das almas de que falamos. Elas, por terem sido libertadas, em estado de impureza e de participação com o visível, são assim também elas visíveis!" (Fédon, 81a)

Sunday, April 27, 2008

Tudo sobre macacos

Em um desses canais educativos da TV a Cabo, vi hoje um documentário sobre macacos para crianças (o documentário).

É, eu vi.

Desejando saber o que são macacos, a criança vai ao computador, faz a pesquisa e assiste a um video.

Ao final ela diz: "Obrigado, computador. Agora já sabemos tudo sobre macacos."

Pronto. Eis o conhecimento absoluto sobre os símios.

Eis que vejo também um professor plantando batatas.

Tuesday, April 22, 2008

Expectativa frustrada

O riso é um afeto resultante da súbita transformação de uma tensa expectativa em nada.

Kant, Crítica da Faculdade de Julgar, 54, 225.

Saturday, April 19, 2008

O segredo do umbigo

Já ouviu falar em cordão umbilical?

Esqueça.

Platão tem uma explicação muito melhor para a existência do umbigo, mas como não é bobo nem nada, a atribui a seu desafeto Aristófanes: trata-se de uma espécie de nó na ponta de uma trouxinha.

Imagine um lençol aberto.

Imagine que você colocou algo dentro dele, para carregar. Roupas, por exemplo.

Agora junte as pontas e amarre-as com um nó.

Pronto, eis o umbigo.

Esclareço: os deuses, por uma razão que explicarei qualquer dia destes, modela os homens (favor não confundir com a história do barro). Como eles eram grandes e são divididos em dois, sobra muita pele. Apolo então estica a pele da barriga, junta as pontas e dá um nó. Ou qualquer coisa que o valha. E assim passamos a ter o que chamamos "umbigo".

Veja a passagem:

"Apolo torcia-lhes o rosto, e repuxando a pele de todos os lados para o que agora se chama o ventre, como as bolsas que se entrouxam, ele fazia uma só abertura e ligava-a firmemente no meio do ventre, que é o que chamam umbigo." (Platão, O Banquete, 190e)

Thursday, April 17, 2008

Coisa horrorosa

No "Banquete", Sócrates compara o sofista Górgias à medusa, aquela figura tétrica, que nos transforma em pedras só de olhar para ela (e que Perseu matou usando o escudo como espelho):

"Eu por mim, considerando que eu mesmo não seria capaz de nem de perto proferir algo tão belo, de vergonha quase me retirava e partia, se tivesse algum meio. Com efeito, vinha-me à mente o discurso de Górgias, a ponto de realmente eu sentir o que disse Homero: temia que, concluindo, Agatão em seu discurso enviasse ao meu a cabeça de Górgias, terrível orador, e de mim mesmo me fizesse uma pedra, sem voz."
(198 c).

Sócrates expressa o medo de que o sofista possa tornar vazio o discurso do filósofo.

Ironia, claro.

Pelo menos não se pode acusá-lo de modéstia, coisa tão fora de moda.

Em tempo: o sofista Górgias era tão popular em Atenas e arredores que os gregos chegaram a criar um neologismo para se referir às tentativas de imitá-lo: gorgianizar.

Tuesday, April 15, 2008

Ateus idiotas (3)

Kierkegaard dizia que a escolha fundamental de Adão (quer tenha ele existido ou seja apenas historinha prá boi dormir) é entre o "eu" (o homem) e o "outro" (Deus), isto é, entre a humanidade e a divindade. Essa escolha não é histórica, feita no passado e, por isso, concluída. É uma escolha de instante, que volta sempre, e nos obriga a refazê-la insistentamente, seja qual for. Somos Adão, na medida em que a todo momento somos convocados pelas circunstâncias a fazer escolhas.

O mesmo se pode dizer da saída do mito (não absoluta): a razão nasce da recusa de uma explicação de mundo; a racionalidade é, por excelência, uma recusa do mito, uma saída progressiva, não completa, de um raciocínio mítico para uma visão de mundo que não se assente na vontade, na necessidade psicológica, na fantasia, na verdade do "dito" ou no sonho.

O conhecimento nos leva necessariamente para longe do mito. Se isto não acontece, é porque criamos cataplasmas para cobrir os furos no sistema, porque não há como refletir com coragem sobre os fundamentos da crença e permanecer inabalável.

Sem o confronto com esses furos no sistema a razão vira técnica: serve à vaidade, serve aos valores individuais, serve às verdades prontas e acabadas.

Serve bem, mas é só.

Saturday, April 12, 2008

Ateus idiotas (2)

Depois da experiência descrita no post anterior, que aconteceu onde não deveria acontecer (dentro da academia, com pessoas no mínimo supostamente esclarecidas), fiquei me perguntando qual é o problema com o ateísmo.

Se sou atéia, é arbítrio meu. Isso não muda ninguém, não vou levar ninguém comigo para o inferno, não estou interferindo na liberdade de escolha de ninguém, não estou lesando ninguém etc etc.

Por que é tão difícil entender isso?

Que eu creia em papai noel, coelhinho da páscoa, astrologia, runas, tarot, I-Ching, umbanda, espíritos esvoaçantes, vampiros e o diabo-a-quatro. Tudo é preferível a ser atéia.

Ow, isso cansa!

Thursday, April 10, 2008

Ateus idiotas (1)

Recentemente, em uma aula de que participo como estudante, escutei argumentos bastante elaborados, oriundos de pessoas diversas, contra o ateísmo:

1. Um amigo ateu me explicou que não crê em Deus por que, quando tinha cinco anos, jogou uma pedra numa janela. A janela quebrou, e o menino pediu a Deus que não deixasse ninguém saber que ele era o autor da façanha. Deus não ouviu o pedido e ele foi castigado. Desde então não crê mais em Deus. E acrescento, por minha conta e risco: "Deus não existe porque não faz a minha vontade."

Argumentei: "Isto não é ateísmo; é ressentimento".

Veio a resposta: "Do ressentimento vem o ateísmo".

A conversa prosseguiu, com outro participante:

"Pior é um ateu que diz 'Graças a Deus'"

Ow, se eu tropeçar em uma pedra e disser "mas que diabo!" estou invocando o capeta?

Então o argumento seguinte: "Mas há bons ateus, que são mais corretos que muitos cristãos".

Isto é, há ateus que são até bons cristãos, apesar de negarem o cristianismo.


E, por fim: "Ateísmo é recusa do pai".


Então tá. Tudo se resume em uma dificuldade psicológica com figuras de autoridade (que o "denunciante" não tem, claro).


Não resisti, meti o bedelho na discussão e ouvi a máxima a respeito de minha interferência: "Isto sim é ressentimento!"

Festival de ad hominem.

Que é isso, gente?

Argumentei contra o ad hominem, ou seja, contra argumentos, e não contra crenças.

Que invoquem papai noel o quanto quiserem, mas encontrem argumentos mais razoáveis contra quem não coloca mais o sapatinho na janela. Pelo amor de Deus.

Tuesday, April 08, 2008

O Banquete (5): Pausânias

Ainda sobre o Banquete de Platão, vamos ao segundo discurso sobre o amor (tema bastante apropriado, já que Fedro ama Eurixímaco, Pausânias ama Agatão, Alcibíades ama Sócrates, Sócrates ama a filosofia, o homem, a humanidade e a morte e Aristófanes não ama ninguém).

Pausânias não fala sobre Eros, o deus do amor, mas sobre Afrodite, a deusa, e entende que há dois tipos de amor: o amor de Afrodite Pandêmia, e o amor de Afrodite Urânia.

Pandêmia é a deusa do amor físico. Urânia é a deusa do amor, digamos, celestial: amor pelo espírito, pela inteligência, pelo bem etc e tal.

Pausânias esclarece que o amor pelo jovenzinho sem barba é menor. O amor que realmente conta é o aquele que tem como alvo jovens já começando a mostrar inteligência, ou seja, os jovens que já começam a ter barba (mas não os bodes de Erasmo de Roterdã, bem entendido. Estes já são adultos e não gostam de beber com ouvintes de memória fiel).

Digressões à parte, o argumento é: o amante deve visar no amado a possibilidade de encorajá-lo a ser virtudo e sábio. O jovem amado, por sua vez, deve esperar aprender com seu amante a - novamente - ser sábio e virtuoso.

Muito bem.

Então o que estava fazendo Pausânias na feliz companhia de Agatão? Provavelmente Agatão era o imberbe e Pausânias era o bode. Ou o contrário, sei lá.

De todo modo, os discursos caminham de uma descrição do amor, digamos, mais ao gosto de Cicciolina, para algo mais fundamental e mais etéreo. Há no diálogo uma ascensão não muito linear da agnosía (ignorância) para a doxa (opinião) e, enfim, para a episteme (conhecimento), representada pela filosofia e pela figura de Sócrates.

Friday, April 04, 2008

Teoria x Prática

Estou concluindo um curso virtual sobre curso virtual - pela terceira vez. E, pela terceira vez, confesso que não aprendi rigorosamente nada. O curso é para treinar professores para ministrar cursos à distância, e no fim das contas trata-se apenas do aprendizado do uso de um programa bem simples. Em todo caso, há um fórum de debates sobre o virtual que nos obriga a refletir sobre o assunto.

Bem, ocorreu-me que estamos acostumados a pensar que a prática depende da teoria, e não é errado pensar assim, mas me parece que o mundo virtual rompe também com esse paradigma. Nele, a prática se faz sem a teoria; é o saber-fazer que interessa, e não por que é assim. Interessa ao usuário do computador apenas saber usar as ferramentas disponíveis, e nada além disso. É claro que há uma teoria que valida essa prática, mas o meu ponto é que, para o usuário, essa teoria é irrelevante. Esse modo de pensar, é claro, não fica restrito ao uso do computador; ele se estende para outras áreas do conhecimento. Isso, penso, acaba alimentando a idéia de que disciplinas teóricas são, via de regra, perda de tempo.

Talvez amanhã pense de outro modo. Por hoje, é isso.

Tuesday, April 01, 2008

O Banquete (4): Fedro

Fedro é o primeiro a falar (lembre-se que na sequência temos Pausânias, Erixímaco, Aristófanes, Agatão, Sócrates e Alcibíades). Ele afirma, citando Hesíodo, um certo Acusilau e Pamênides, que Eros é o mais antigo dos deuses, o mais poderoso e o mais digno.

Este Eros a que Fedro se refere é o Eros primordial, que surge quando a terra, Gaia, se une ao Céu, Urano. O outro Eros, o garotinho com uma flecha, é filho de Afrodite e Ares.

Bem, o Eros primordial, segundo Fedro, faz com que cada homem cuide de si mesmo, seja corajoso, honesto e honrado. A lógica é simples: quem ama quer a admiração da pessoa amada, então se esforça para se conduzir de modo correto. É capaz até de sacrificar sua vida pelo amado. Logo, o amor torna os homens melhores.

Aposto que Foucault se inspirou no discurso de Fedro para escrever o livro 2 da História da Sexualidade.

Monday, March 31, 2008

O Banquete (3): o debate

Em banquete grego, bebe-se.

Bebe-se, bebe-se.

E depois de beber, claro, há uma farrinha com hetárias, ou com as flautistas, ou com as serviçais, ou com as dançarinas, ou, sei lá, entre os convivas, ou tudo isso junto, mas isso realmente não interessa, né?

Bem, Fedro e Aristófanes estavam de ressaca. Já haviam bebido demais na noite anterior, e não estavam muito dispostos a repetir a façanha. Sócrates, por sua vez, não gostava de beber muito.

Fedro então sugere que todos bebam moderadamente, e que conversem a respeito de um tema de interesse geral. Como Agatão havia ganho um prêmio literário com uma tragédia que obviamente envolvia o deus Eros, ou amantes, o tema escolhido é o amor.

Cada um deve falar sobre o amor, obedecendo à disposição dos lugares à "mesa", a começar pelo próprio Fedro.

(Viu como eu tinha razão? Para ler O Banquete, é preciso saber onde cada um estava sentado. Tá lembrado? Então vamos em frente.)

Fedro é o primeiro a discursar. Em seguida, Pausânias. Na sequência, era a vez de Aristófanes, mas ele começa a soluçar. Erixímaco, o quarto da esquerda para a direita (lembre-se disso), toma a palavra, a pedido de Aristófanes.

A partir daí, a sequência é mantida: Agatão, Sócrates e Alcibíades.

Então tá.

Amanhã continuo.

Saturday, March 29, 2008

O Banquete (2): os convivas

Estavam presentes ao banquete Agatão, o anfitrião, Pausânias, Fedro, Sócrates, Erixímaco, Alcibíades e Aristófanes.

A disposição dos convivas era a seguinte, da esquerda para a direita:

Fedro, que tinha a seu lado Pausânias, próximo a Aristófanes, que estava sentado ao lado de Erixímaco, que sentou-se ao lado de Agatão, que fez questão de sentar-se próximo a Sócrates (para aprender por osmose), que estava sentado ao lado de Alcibíades, que sentou-se ao lado de Fedro.

Prestou atenção?

Ow, isso é muito importante!

A boa compreensão do diálogo depende imensamente de saber onde cada um dos participantes estava sentado, viu?

Confie em mim.

Se esqueceu, releia.

Desenhar uma mesa redonda e dispor todos os convivas em seus lugares ajuda a memorizar, tá?

Então vamos revisar?

Fedro, ao lado de Pausânias, ao lado de Aristófanes, ao lado de Erixímaco, ao lado de Agatão, ao lado de Sócrates, ao lado de Alcibíades, ao lado de Fedro.

Ihh, acho que eu já decorei.

Ainda bem que a memória é seletiva.

Tuesday, March 25, 2008

O Banquete (1): a trama

Estou relendo O Banquete, de Platão. Já havia me esquecido de como é interessante.

A trama é a seguinte: em 416 a.C. a tragédia que um tal Agatão, o bom, escreveu foi a vencedora em um concurso de literatura, a Dionísia. Satisfeitíssimo, resolveu convidar alguns amigos para um banquete em sua casa, dois dias depois.

Quinze anos se passaram. Agatão já não morava mais em Atenas, e Sócrates estava a dois anos de sua sentença de morte. Certo dia, um tal Apolodoro encontra casualmente um conhecido, que lhe pergunta sobre o evento. Apolodoro esclarece que não estava presente, e nem poderia, pois ainda era muito jovem na ocasião, mas esclarece que ouviu de um certo Fênix histórias sobre o banquete, que por sua vez ouvira de um certo Aristodemo, que não chegou a acompanhar o debate. Curioso, Apolodoro procurou Sócrates para saber dele o que havia acontecido, e Sócrates confirmou a história contada por Fênix.

Apolodoro aceita, por fim, contar ao conhecido o que ouvira de Sócrates, que confirmava o que Apolodoro ouvira de Fênix, que ouvira a mesma história de Aristodemo, que não acompanhara o debate.

E eu agora contarei o que não ouvi de ninguém, nem presenciei.

Mas pode confiar em mim.

Sunday, March 23, 2008

Mito e razão

"Só o pensamento que faz violência a si mesmo é suficientemente duro para destruir os mitos".

Theodor Adorno, Conceito de Esclarecimento.

Thursday, March 20, 2008

Dórios comediantes

Diz Aristóteles na Poética V, 1448 (29): "Os dórios para si reclamam a invenção da tragédia e da comédia".

Fiquei por entender. Os dórios não são aquele povo nômade que chegou à Grécia, vindo do norte mais ou menos em 1.200 a.C. e derrotou os micênios? Não eram eles que tinham armas de ferro e se instalaram no Peloponeso, mais precisamente em Esparta? Esse povo não era inteiramente voltado para a guerra, brutal e inculto?

Ao menos é isso o que os livros de história dizem.

A palavra "lacônico" não vem justamente da planície onde ficava Esparta (a Lacônia) e significa aquele que fala pouco? Não aprendemos que Esparta via o interesse de Atenas pela filosofia e pela literatura como frescura e não escreveu praticamente nada? A chegada dos dórios não marcou o início da "Idade das Trevas" grega, ou seja, um período em que a escrita praticamente desapareceu?

Como é que um povo assim pode ser o "inventor" da comédia?

Catarse? Em Esparta? Sei não.

Em todo caso é mais provável que Aristóteles tenha razão e a história esteja ligeiramente equivocada.

Monday, March 17, 2008

Saudades de Mu

Ah, Mu! Continente maravilhoso, perdido no fundo do mar.

Mu, com suas montanhas, seus rios, seus lagos, sua brisa!

Ah, Mu, que o mar levou!

Mu, o querido Mu, que abrigava o grande país de Mu!

Ah, Mu, que não volta mais!

Mas Mu há de voltar. Será a volta dos que não foram, o retorno dos que nunca vieram.

É o que dizem os adeptos de Mu.

Ai, ai.

Mu foi embora. O país e o continente. Mas voltará um dia, em todo seu esplendor. Os habitantes de Mu, arianos, inteligentíssimos, avançadíssimos, voltarão um dia, talvez na cauda de um cometa, talvez em uma nave extraterrestre.

E nos ensinarão o Mu.

Mu-çulmano? Mu-queca? Mú-sica? Mu-stafá? Mu-ro? Mu-ralha? Mu-lher? Mu-ndinho?

Mu-gido?

Mu-la?

Apenas Mu.

Aguarde e verá.

Saturday, March 15, 2008

O zel da merda

Que William Waack seja um de nossos melhores jornalistas, ninguém discute.

O que ninguém sabia é que ele fala merda com muita frequência.

No Jornal Nacional, ao chamar a repórter Zelda Melo, acabou dizendo "Zelda Merda". Veja o vídeo linkado no título.

Só quem fala muita merda no dia-a-dia pode fazê-lo também na TV.

Friday, March 14, 2008

"I" de iscola e "e" de esquero

Sempre achei a fama de burra de Carla Perez exagerada, mas não há exagero algum. Carla Perez fugiu mesmo da iscola, mas isqueceu o esquero por lá.

Veja o vídeo.

Wednesday, March 12, 2008

Juju, Rita Lee e o trance

Aposto que você não sabe quem é o Juju.

Tente adivinhar: Juju tem barba, bigode, é magrin, gostava de falar de amor e passou alguns dias vendo o mundo do alto.

Adivinhou? Não?

Quer mais dicas?

Juju tinha mãe, mas não tinha pai. Morreu, mas não foi enterrado.

E agora, adivinhou? Claro, né? Juju é Jesus Cristo.

Ao menos, é esse o nome carinhoso com que os malucos da Igreja do Trance Divino se referem ao Cristo.

A Igreja do Transe é uma seita dedicada... ao trance! Os adeptos pregam uma religiosidade dançante, sem sofrimentos, sem essa de morrer para renascer, pecado e quetais. E sobretudo sem dízimo. Você só precisa pagar a entrada para as festas e se divertir a valer.

Ah, sim: para fazer parte da seita, precisará ter um nome indiano. Um daqueles nomes enormes, impronunciáveis, que ninguém quer ter.

Mas vou logo avisando: se quiser ser pastor da Igreja do Transe e mudar sua vida em uma boa farra de sexta-feira, terá de ser DJ.

Depois de Jesus?

Não, não.

Disc-Jóquei mesmo.

Para ser pastor também é imprescindível tocar bem, claro. Mas se você for um tipo humilde e preferir ser uma coisinha de nada na seita, basta ter um bom conhecimento de música eletrônica e adorar Rita Lee, a santa da seita.

Isso, mesmo. Rita Lee e trance. E daí? O que você tem a ver com isso?

Vá lá, vá. Alto Paraíso, Goiás. O que você tem a perder?

Leve um cd de trance para garantir a entrada.

Se não está acreditando em mim, espie a reportagem linkada no título deste post e acredite na ministra Anirit Kuyana: “Nossa religião é basicamente musical... Ela te leva num ritmo enorme e te solta lá em cima sozinho. E aí nisso a mente esvazia, você fica no nirvana, você fica sem o pensamento. É essa a delícia do trance: É misturar o básico ‘bate estaca’ da animal, do bicho que somos, com o espírito, com divindade”.

É... Quem nasceu jaburu nunca será cotovia. Mas que tenta, tenta.

Sunday, March 09, 2008

Homem-peixe

Anaximandro de Mileto (século VI a.C.), discípulo de Tales de Mileto, era uma figura extraordinária. Afirmava que a terra era redonda, fez o primeiro mapa de que se tem notícia e, pasmem!, resolveu o problema da origem do homem.

Como?

Simples: o homem veio do peixe, com catorze anos.

O raciocínio deve ter sido o seguinte:

O homem só pode ter vindo do mesmo ou do outro.

Do mesmo não pode ser, porque jamais chegaríamos ao primeiro homem; haveria sempre outro anterior que o gerou.

Se veio do outro, terá sido do outro natural ou do outro não-natural?

A hipótese de que o homem veio de um ser não-natural é descartada; já tivemos deuses demais.

É certo, então, que o homem originou-se de outro ser, natural. Logo, o homem antes de ser homem era outra coisa.

De onde vem a vida? Do mar, claro.

Então o homem veio do mar.

Se vivia no mar, então era peixe.

Por alguma razão desconhecida, houve uma transformação: um peixe gerou um ser diferente em alguns aspectos de si mesmo.

Ao fim de catorze anos de gestação, o peixe-mãe pariu seu filhote estranho próximo da terra (esse peixe era mamífero, obviamente).

Por que catorze anos?

Porque o homem, segundo Anaximandro, só é capaz de sobreviver sozinho aos catorze anos. Antes disso se for abandonado, morre.

Então.

O homem-peixe foi parido na praia.

Ainda tinha escamas, ainda era mais peixe que homem.

Com o passar do tempo e a adaptação à terra, perdeu as escamas, aprendeu a respirar pelos pulmões e ganhou pernas para se locomover.

Novas mudanças aconteceram, até se transformar no que é hoje.


Agora me diga: isto é ou não é uma espécie de teoria da evolução?

Quem foi mesmo que disse que na ciência nada se cria, nada se perde; tudo se transforma?

Laplace?

Saturday, March 08, 2008

Ex-donos do saber

O saber, antes nas mãos de mestres e pais, está mudando de dono: a criança que deseja criar um perfil no Orkut jamais pedirá ao pai ou ao professor para ajudá-lo; pedirá a um coleguinha. O adulto não sabe o bastante para ajudá-la (se isto é verdade ou não, pouca importa).

Este sintoma revela algumas tendências: a de deslocamento do saber que interessa às novas gerações (pragmático, técnico, instrumental, fragmentado, e que responda apenas às exigências do momento) para as mãos dos jovens; a formação de autodidatas e, por fim, o declínio do ofício de ensinar.

Quando aprende-se a aprender (e isto a internet ensina; se bem ou mal é outra história), qual é, de fato, a necessidade de professores? Bastam tutores multimídia, que coordenem os trabalhos em um ensino teleguiado, confortável, divertido e sobretudo dinâmico. Estas caracteríticas são apropriadas a uma cultura de superfície, mas também é preciso perguntar se, para as novas gerações, faz sentido ser de outro modo.

O perfil deste novo profissional do saber deve ser o de um bom comunicador, que tenha sempre o cuidado de não cansar o aluno e de manter viva sua atenção, porque o valor de um profissional de qualquer área está para a capacidade de atrair e manter a atenção.

Mas nada disso é negativo; uma geração autodidata deve ser melhor que uma geração que terceiriza o pensamento; a lógica interna à utilização dos recursos de informática, cuja compreensão é necessária para a imersão no mundo virtual, forja um novo modo de pensar e uma nova inteligência.

O problema, se há, não é das novas gerações. O conhecimento que deterão terá como suporte o autodidatismo e a inteligência, continuamente testada no uso diário do computador.

Problema temos nós, que ainda estamos raciocinando e funcionando em uma outra lógica, quando o mundo, quer queiramos, quer não, já mudou.

Thursday, March 06, 2008

Adorno, sobre a internet

Os reis não controlam a técnica mais diretamente do que os comerciantes: ela é tão democrática quanto o sistema econômico com o qual se desenvolve. A técnica é a essência desse saber, que não visa conceitos e imagens, nem o prazer do discernimento, mas o método, a utilização do trabalho de outros, o capital... O que importa não é aquela satisfação que, para os homens, se chama "verdade", mas a "operation", o procedimento eficaz. Pois não é nos "discursos plausíveis, capazes de proporcionar deleite, de inspirar respeito ou de impressionar de uma maneira qualquer, nem em quaisquer argumentos verossímeis, mas em obrar e trabalhar e na descoberta de particularidades antes desconhecidas, para melhor prover e auxiliar a vida, que reside "o verdadeiro objetivo e função da ciência". Não deve haver nenhum mistério, mas tampouco o desejo de sua revelação.

O Conceito de Esclarecimento. In: Dialética do Esclarecimento.

Wednesday, March 05, 2008

Leite corrompido

"Seria preciso uma ama tão sadia de coração quanto de corpo: a intempérie das paixões pode, assim como a dos humores, alterar seu leite".

Jean-Jacques Rousseau, Emílio, p. 37.

Tuesday, March 04, 2008

Hoje não são 4

Francamente, não entendo isso de dizer "Hoje são 4".

Verbo combina com sujeito, certo?

O sujeito é "hoje", certo?

Singular, certo?

Então por que o verbo não combina com o sujeito, ora?

Será por que "hoje" é advérbio? Mas não funciona como sujeito na frase?

Ihh. Sei lá.

Saturday, March 01, 2008

Maravilha

Hoje estava disposta a fazer algo diferente, sair da rotina, e assisti ao Mulher Maravilha.

Experiência única, que não viverei novamente, por isso tem de ser partilhada.

Então.

A mulher maravilha encontrou uma menina de outra dimensão, outro planeta, outra coisinha qualquer, e tem um problema prá resolver: devolver a menina a seu lugar de origem sã e salva.

Não é pouca coisa, não. Imagine. A mulher maravilha nem sabe onde fica o portal para o outro mundo.

Enquanto isso, um cidadão de meia-idade (confesso que não prestei atenção suficiente para saber quem é), um sujeito que sofreu um trauma no passado e ficou ranzinza, encontra a menina e... olhe só, começa a dizer que sua vida mudou; agora é capaz de perceber a doçura de um sorriso infantil, a candura de uma criança. Agora é capaz de ser feliz novamente. Quer até adotar a menina de outro planeta, no mais genuíno amor filial e reencontro de seu antigo eu.

Procure ver a situação com bons olhos, tá? Afinal, é a Mulher Maravilha.

O homem reencontrou sua infância perdida, reconciliou-se com a imagem da mãe austera que o perseguiu até a maturidade, e nasceu de novo.

Não é lindo? Fiquei até me perguntando quanto o ator terá recebido para fazer esse papel.

Mas belo mesmo é o fato de que ele próprio diz tudo isso.

Ao final, a menina não consegue voltar para seu planeta, então diz ao homem que quer ser filha dele.

Ele, com lágrimas nos olhos, responde: "Jura?"

Juro.

Vi mesmo.

Friday, February 29, 2008

kkkkkkk...!!!!

Eu sei, eu sou chata, implicante, coisa e tal, mas há algumas expressões que não dá prá encarar. Uma delas é o "meu caro". Se em um debate surgir um "meu caro", é hora de sartar fora. Outra é o "veja bem". Então para "ver bem" é preciso escutar o que o outro vai dizer? Tô fora.

Vamos combinar. Tem algo mais infantil que o kkkkkkkk? kkkkkkkk! Admito que 15 anos e kkkkkk estejam de acordo, mas passou disso é ridículo.

Agora triste mesmo é o "meu caro, veja bem... kkkkkkk!" Não creio que possa sair algo decente de uma frase como essa.

Tá certo. É chatice minha mesmo. Vamos combinar.

Tuesday, February 26, 2008

Turismo intelectual (2)

Ainda sobre Bayard e sua tese genial.

As restrições que ele enumera merecem uma consideração, né? Então vamos lá.

a) Vivemos em uma sociedade em que a leitura ainda é sacralizada.

Isto não é verdade. Vivemos em uma época de turistas intelectuais, isto sim. O livro, assim como a academia, deixaram de ser sagrados. Agora, dentro da academia e em círculos intelectuais, é claro que a leitura é sacralizada. Mas é fácil livrar-se desta "opressão social": se não quer ler, saia da academia, mané.

b) É praticamente proibido não ler certos livros;

Sim, para um professor de literatura é obrigatório conhecer a boa literatura. Não necessariamente uma obra em particular, ou um autor em particular, mas tem sim de conhecer aquilo de que fala. Por que um médico tem de conhecer bem o que diz respeito à sua profissão e um professor de literatura não precisa ler? Será apenas por que o médico pode matar e a ignorância não mata necessariamente?

c) É necessário ter lido um livro para ser capaz de falar sobre ele.

É necessário sim, mané. A não ser que queiramos transformar qualidade em espetáculo.

Por fim, o que mais me incomoda na tese de Bayard é o fato de que ela carrega nas entrelinhas a afirmação de que um profissional de ciências humanas não precisa dominar o conteúdo com o qual trabalha; basta o conhecimento superficial e a boa retórica, porque afinal de contas as humanidades não passam disso. As demais ciências é que são sérias.

Monday, February 25, 2008

Turismo intelectual (1)

Um certo Pierre Bayard publicou recentemente o livro "Comment parler des livres que l'on n'a plus lus" (como falar de livros que nunca lemos) e está vendendo bem.

Ele explica, segundo a reportagem clicada no título, que não gosta muito de ler e que nem tem tempo prá isso. Mesmo assim, é obrigado frequentemente a comentar livros que não leu, porque

a) Vivemos em uma sociedade em que a leitura ainda é sacralizada;
b) É praticamente proibido não ler certos livros;
c) É necessário ter lido um livro para ser capaz de falar sobre ele.

Bayard discorda dos três pontos assinalados acima. Tratam-se de restrições à "não-leitura" impostas pelo social que apenas promovem a falta de abertura no contato pessoal, além de gerar sentimentos desnecessários de culpa. Bayard também acha que é perfeitamente possível discutir um livro sem tê-lo lido, mesmo com quem também não o leu.

Sobretudo com quem também não leu, né?

Certo. Então posso comentar este livro que não li, já que o autor não só me autoriza, como me encoraja a fazer isso.

Bayard é professor de literatura da Universidade de Paris. Concordo que ele não precisa ler Proust para ser professor de literatura, desde que a aula não seja sobre Proust. O que não dá prá aceitar é que um professor de literatura afirme que não gosta de ler, que não tem tempo para isso e mais, que não precisa ler.

Ow, isso é má-fé e preguiça intelectual. Para esconder a preguiça até de si mesmo, Bayard inventa uma teoria sobre constrangimento social, como se fossemos obrigados a ler. Não somos, não. Um professor de literatura tem, sim, de ler. Um tradutor tem de gostar de ler. Um professor de filosofia tem de gostar de ler. Mas é só.

Hoje há filmes de boa parte da literatura de porte. Ver o filme e discutir as idéias que estão nele é uma coisa. Apenas ver o filme e/ou ler comentários acerca do livro e discutir com ares de grande entendedor é outra bem diferente. A preguiça intelectual é bem alimentada e a reputação idem.

Não estamos mais em uma era de grandes leitores. Não conheço uma só pessoa da nova geração que tenha lido uma única peça de Shakespeare e se sinta culpado por isso. Não conheço absolutamente ninguém desta nova geração que tenha lido Faulkner, ou alguém que se interesse em ler os clássicos. Onde está a culpa? A interação social de qualidade é prejudicada pelo preconceito contra não-leitores? C'mon.

É claro que a leitura de bons livros humaniza, nos torna mais capazes de enxergar o outro, amplia a cognição, torna o raciocínio melhor articulado, aprimora nossa leitura de mundo etc e tal. Mas Bayard não tem nada disso em vista. Ele apenas acha que teve uma sacada genial ao criar a teoria da opressão dos não-leitores contra os não-leitores para justificar o fato de que ele próprio, apesar de ser professor de literatura de uma das melhores universidades do mundo, simplesmente não lê.

Sunday, February 24, 2008

Vampiros (5): Espíritos anti-democráticos

Depois de escrever o último post, me ocorreu a brilhante idéia de escrever um manual de sobrevivência de mortos-vivos.

Olhe só. Com toda essa expertise em vampirologia e defesa contra mortos-vivos tornada pública e acessível a qualquer mortal, os vampiros não têm como sobreviver. Alguém precisa fazer alguma coisa. Se os vampiros desaparecerem da face da terra, o que será dos vampirólogos? Sobretudo, o que será de nós, meros mortais? Vamos simplesmente morrer e pronto? Desaparecer? Assim, c'est fini? Nãnãnãnão!

Melhor ser um cadáver vivo que um cadáver morto, né não?

Puxa, será que ninguém pensa nisso?

Não temos o direito de escolha? Prefiro ser zumbi a carniça. Dá licença?

E depois, há uma ambição totalitária por trás da caça implacável aos zumbis. É genocídio, promove o desequilíbrio ecológico dos cemitérios e a eliminação da diferença. Como fica a democracia, santa?

Eitcha. Minha idéia é mesmo muito boa. Só não sei se vai vender. Matar vampiros dá mais ibope que proteger vampiros.

Wednesday, February 20, 2008

Vampiros (4): Van Helsing strikes again

É preciso reconhecer: o padre Seán Manchester está fazendo escola. Depois do Guia Conciso de Vampirologia, você pode adquirir também o "Guia de Sobrevivência aos Zumbis: Proteção Completa contra os Mortos-Vivos", de um tal Max Brooks, pela bagatela de 7 dólares, se for usado. Se não for, e tiver uma encadernação bem acabadinha, por sair por até 55 doláres.

Pague. Sua vida vale muito mais.

Outras maravilhas das editoras, imagino que classificadas no gênero "humor":

- "Enciclopédia dos Mortos-Vivos: um guia para compreender as criaturas que não descansam em paz", de Bob Curran. Sai por até 49,55 dólares.
- "Manual de exorcismo", de H. A. Maxwell Whyte. Compre por até 44.99 dólares.
- "Como ver fantasmas", de Peter Underwood. O preço varia entre 5.75 e 50.63 dólares. Ow, esse eu quero! Sempre desejei ver fantasmas. A vida fica mais emocionante com eles.

Outra de Manchester:
- "Manual de Caça ao Vampiro" (com a recomendação expressa de esquecer tudo sobre Buffy, a caça-vampiros). Pode sair por até 72,52 dólares. Caro, né? Mas sua vida vale ou não vale o esforço? Hein?

Dê uma espiada na página da editora Abe Books que linkei no título. Há outras pérolas para quem não tem nada mais a fazer na vida a não ser proteger sua vida daqueles que já perderam a vida.

Não sei quanto aos outros autores, mas posso garantir que os livros do padre Manchester são sérios, ao menos para ele. O homem já tem uns trinta anos de estrada caçando e matando vampiros. Como é que ele consegue passar a vida perseguindo o imaginário é um mistério até para Allan Poe.

Verdade seja dita: ele bem que merece ganhar uma graninha depois de tanto esforço.

Thursday, February 14, 2008

Bife com batatas fritas

Como o problema com o Blogspot parece resolvido, sigo em frente.

Folheando "Mitologias", de Roland Barthes, encontrei esta pérola:

Associado geralmente às batatas fritas, o bife transmite-lhes o seu renome: a batata frita é nostálgica e patriótica como o bife (DIFEL, p. 55).

O que ele terá querido dizer?

Friday, February 08, 2008

Blog fora do ar

Lamentavelmente, este blog terá de ser desativado. Não é mais seguro nem para mim, nem para qualquer pessoa que o visite. De algum modo, e não sei explicar como, um código malicioso foi associado a ele. Se não puder resolver o problema, ele será fechado definitivamente. Abrirei outro, em outro espaço. Espero rever em um novo blog todos os que escreveram comentários.

Wednesday, January 23, 2008

Vampiros (3): Van Helsing

Seán Manchester é um padre britânico que dedica 100% de seu tempo à caça aos vampiros.

Jura que esteve frente a frente com um deles, e tratou de mandá-lo para o inferno antes que alguém mais o visse. Foi uma experiência terrível. Assustadora, mesmo. Felizmente ele é corajoso e equilibrado.

Com peninha dos incautos, resolveu escrever um manual de instruções para que se protejam do mal. Diz o anúncio que se trata de um Guia Conciso de Vampirologia.

Ainda bem que é conciso. O leitor poderia topar com um vampiro antes de concluir a leitura do guia completo e aí, babau leitura.

De qualquer forma, você pode comprá-lo pela internet, por 12 libras.

Faça a conversão para o Euro antes de encomendar o guia, tá?

Prá não se sentir roubado depois.

Eu não vou comprar o manual porque já vi filmes demais sobre o conde Drácula. Já tenho todas as informações de que preciso para me defender, caso seja necessário.

Tuesday, January 08, 2008

Vampiros (2): Há gente prá tudo

Vampiros têm dentes caninos bem afiados, unhas enormes, gostam de sangue, de rock, do estilo gótico e, claro, da noite. Vampiros modernos também.

Vampiros dormem em caixões. Vampiros modernos também.

Mas vampiros modernos são, digamos, bem modernos. Não gostam de matar, só bebem sangue doado, saem à luz do dia, não têm medo de estacas e alho, trabalham e não vivem em castelos, mas sim em apartamentos de dois quartos e sala.

Ah, sim. Vampiros modernos escovam os dentes antes de encontrar um feliz doador. E retiram os dentes postiços antes de dormir.

Seja como for, há vampiros por aí. Mortais, mas não mortais, se é que me entende.

Veja o vídeo linkado no título deste post: almas procurando dar sentido às suas vidas e descobrindo um meio de virar documentário.