Tuesday, January 31, 2006

Besteirol (5): O burger dominante

Concretamente, o estudo de hamburgers feito por minha classe envolveu não só inglês e filosofia em nosso uso da palavra escrita e lida e análise conceitual, mas incluiu também os aspectos econômicos, no estudo das relações entre bens que introduziram os hamburgers no mercado, história e sociologia na avaliação do que era a dieta diária antes do aparecimento dos hamburgers e das ciências da saída em termos do valor alimentício do burger dominante.

Ira Shor, professor da City University, de Nova York.

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In: O Melhor do Besteirol - As 597 Asneiras Jamais Ditas

Monday, January 30, 2006

Besteirol (4): Arte mimética

De Michael Curtiz, diretor de cinema de Hollywood:

- Agora, cavalgue em todas as direções. (dirigindo Gary Cooper).

- Vocês não poderiam se aproximar um pouco mais para lá?

- Movam-se todos para aqui e para ali... em desordem.

- Separem-se juntos e em grupos. E não se juntem muito em grupos pequenos.

- É chata do começo ao fim, mas muito divertida. (comentando uma comédia).

- Cale a boca! Você está sempre me interrompendo no meio de meus erros!

- Não fale comigo enquanto estou interrompendo.

- Quando eu quiser sua opinião, eu lhe dou a minha.

- Se lhe contasse a verdade, eu seria um hipócrita.

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In: O Melhor do Besteirol - As 597 Asneiras Jamais Ditas

Sunday, January 29, 2006

Besteirol (3): Mãos à obra

Construção de uma cadeia:

1. Considerando etc., etc., este conselho resolve: que uma nova cadeia seja construída.
2. Que a nova cadeia seja construída com os materiais da velha cadeia.
3. Que a velha cadeia seja usada até que a nova esteja pronta.

Resolução da Junta de Conselheiros do estado do Mississipi, em meados de 1800.


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In: O Melhor do Besteirol - As 597 Asneiras Jamais Ditas

Saturday, January 28, 2006

Besteirol (2): Concorrência difícil

De Sir Boyle, deputado inglês:
- Respondo na afirmativa com um enfático “não”.
- Se ja mais chegar a uma milha de nossa casa, poderia fazer a fineza de parar aí para passar a noite?
- Milhares deles eram carentes até das coisas que possuíam.
- A taça de nossos problemas está transbordando, mas, infelizmente, ainda não está cheia.
- Felizmente os rebeldes não tinham armas de fogo, exceto pistolas e lanças.
- Um homem não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, a menos que seja uma ave.
- Eu lhe disse para fazer um mais comprido que o outro e, em vez disso, você fez um mais curto que o outro – o contrário.
- Metade das mentiras que nossos adversários dizem sobre nós não é verdade.
As melhores de Ronald Reagan:
- Não acredito que uma árvore seja uma árvore e, se viu uma, viu todas.
- Quem viu uma sequóia, viu todas elas.
- Agora estamos tentando fazer com que o desemprego aumente, e acho que vamos ter êxito.
- Seres humanos não são animais e não quero ver sexo e diferenças sexuais tratados tão causal e amoralmente como cães e outros animais os tratam.
- Os Estados Unidos têm muito a oferecer à terceira guerra mundial.
- Por que subsidiaríamos a curiosidade intelectual?


- Sou filosoficamente contra qualquer aumento de tarifas, mas isso não significa que não vou apoiá-las. Joseph Alexander, prefeito da Virgínia).

- Não há manual que ensine a boa capacidade de julgamento. Eu posso cometer um ou dois erros, mas só depois de pensar maduramente sobre eles. (Marion Barry, prefeito de Washington).

- O morto tinha um problema de fala. (Prefeito de uma província de Portugal, apresentando características identificadoras quando da busca do corpo de um homem que se afogara).

- As ruas são seguras na cidade da Filadélfia. As pessoas é que as tornam inseguras. (Frank Rizzo, prefeito da Filadélfia).

- Tirando os assassinatos, Washington tem uma das taxas de criminalidade mais baixas do país. (Marion Barry, prefeito de Washington).

- Por que judeus e árabes não podem se reunir e discutir a questão como bons cristãos? (Arthur Balfour, estadista britânico).

- Esse patife ordinário devia ser escoiceado até à morte por um asno – e eu sou o indicado para fazer isso. (John Parker, senador por Massachussets, referindo-se a certo candidato ao Congresso).

- Este é o pior desastre que aconteceu na Califórnia desde que fui eleito. (Pat Brown, governador da Califórnia, comentando uma inundação local).

- Recebemos ontem de manhã vultosa soma de uma fonte desconhecida, cuja imensa generosidade é conhecida de todos nós. (Leon Daudet, líder francês).

- Quando um grande número de pessoas não consegue encontrar trabalho, o resultado é o desemprego. (Calvin Coolidge, presidente americano).

- Este é um grande dia para a França! (Nixon, no enterro de De Gaulle).

- Senhoras e senhores, se essa medida de coerção for aprovada, nenhum homem na Irlanda poderá falar sobre política, a menos que seja surdo e mudo. (Lord Russell, membro do parlamento inglês).

- Mantenho todas as minhas declarações errôneas. (Dan Quayle, candidato a vice-presidente dos Estados Unidos).

- Se digo uma mentira, é porque penso que estou dizendo a verdade. (Phil Gaglardi, ministro canadense).

- Se deixarem que esse tipo de coisa continue acontecendo, o pão e a manteiga dos senhores serão puxados debaixo de seus pés. (Ernest Bevin, ministro britânico).

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In: O Melhor do Besteirol - As 597 Asneiras Jamais Ditas

Friday, January 27, 2006

Besteirol (1) : O campeão de Hollywood

Verdade seja dita. Dizer asneiras em Hollywood não é lá grande coisa, mas ser campeão de asneiras Hollywood, isto sim é um grande feito. Samuel Goldwyn, o megaprodutor, detém o título há mais de 50 anos, mesmo estando morto há anos.

- Em qualquer dia, prefiro um idiota sabido a um gênio burro.
- Por que chamá-lo de Joe? Todo Tom, Dick e Harry é chamado de Joe.
- Li parte do texto até o fim.
- Um contrato verbal não vale o papel em que está escrito.
-
Quando perguntado pela secretária se poderia destruir alguns velhos arquivos: pode, mas antes tire uma cópia.
- Cavalheiros, incluam-me fora disso.
- Nossas comédias não devem ser objeto de riso.
- Você está em parte cem por cento certo.
- Frances tem as mãos mais belas do mundo. Qualquer dia destes mandarei fazer um busto delas.
- Tive uma idéia extraordinária esta manhã, mas não gostei dela.
- Só uso sapatos novos depois de amaciá-los durante cinco anos.
- O homem que consulta um psiquiatra devia mandar examinar a cabeça.
- Eu fui até onde a mão do homem nunca pôs o pé.
- O sexo sobreviverá a todos nós.

- Um hospital não é lugar para se estar doente.
- Se eu caísse morto agora, seria o homem vivo mais feliz.
- Quando alguém disser algo interessante, aplauda. Você fará duas pessoas felizes.
- Vamos criar alguns novos clichés.
- Eu admito que nem sempre tenho razão, mas nunca me engano.
- Eu só posso dar a você um talvez definitivo.
- Ao filho, quando casou: "Graças a Deus. A vida de solteiro não é para homem solteiro".
- Mas esse é nosso ponto fraco mais forte!
- Eu só posso dizer isso em duas palavras: im -- possível.
- O preço era excessivo, mas valia cada centavo.
- Eu acho que eles deveriam escrever uma autobiografia só depois de mortos.
- Atualize esse diálogo para algo do século dezenove.
- Cavalheiros, ouçam-me lentamente.

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Veja também: O Melhor do Besteirol - As 597 Asneiras Jamais Ditas

Thursday, January 26, 2006

Enterro no estômago

Diz uma passagem do tratado anônimo Dissoi Logoi, de mais ou menos 400 a.C.:

"Os Massagetas esquartejam seus pais e os comem, e acham que o ato de enterrá-los em seus filhos é a forma mais bela de homenageá-los".

Puxa. Não sei que povo é esse, mas o mesmo costume é também narrado por Heródoto em sua História. Tratava-se de um ritual fúnebre: o morto devia ser servido no jantar. Family only.

Eu não quero ser desagradável, mas preciso perguntar sobre os aspectos práticos da coisa toda. Alguém tem de pensar nisso.

E se não houvesse filhos?

Se o morto fosse criança, que faziam com ele?

O que faziam com os ossos? Enterravam no estômago dos animais?

Quantas panelas seriam necessárias para cozinhar um homem de 1,70m, mais ou menos?

Aliás, os mortos eram cozidos?

E se houvesse só duas pessoas na família? Teriam carne prá semana inteira, mas e aí, o que faziam? Salgavam o morto?

Aliás, será que serviam o morto temperado?

E se o morto já estivesse, digamos, em decomposição?

E se estivesse meio passado, por exemplo, com 90 anos?

E se fosse só pele e osso?

E se estivesse doente?

E se?

Wednesday, January 25, 2006

No Orkuts for me

Definitivamente, não me entendo com o Orkut. Quando tento acessá-lo, tenho de enfrentar um programa caprichoso, que parece não gostar muito de minha senha, já que pede confirmação pelo menos duas vezes. Feito o login, é hora de navegar... e lá vem a mensagem: no donuts for you.

É verdade que a mensagem de erro agora está em português, mas é verdade também que continuo sem donuts.

Sim, com um pouquinho de paciência é possível que lá pela décima tentativa eu consiga alguma coisa. Mas não sou tão paciente assim.

Em todo caso, o site é sempre tão movimentado, até onde posso perceber, que desconfio ser a única a não ganhar donuts.

Tuesday, January 24, 2006

A bolha protetora da EcoSport

Presenciei, há alguns dias, um episódio lamentável na porta de minha casa: primeiramente surgiu um rapaz de bicicleta, sendo perseguido à curta distância por uma EcoSport preta. Exatamente na frente de minha casa a EcoSport atropelou o rapaz de bicicleta, propositalmente.

Sim, atropelou.

Em seguida o motorista, que estava sozinho, desceu do carro, bateu no ciclista (sim, aquele que tinha sido atropelado há um minuto), perguntando onde estava o toca-fitas do carro e, como o rapaz dizia não saber de nada, o dono da EcoSport obrigou o ciclista a entrar no carro e arrancou, levando-o junto.

Pelo que entendi, porque foi tudo muito rápido, o motorista esperava que o rapaz atropelado (cambaleante, por sinal) o levasse até a porcariazinha de um toca-fitas que teria acabado de roubar.

Avisamos a polícia.

Quando chegou, a primeira coisa que o policial disse, depois de escutar a história e ver a bicicleta torta, é que o dono do carro devia ter feito o serviço direito (leia-se: devia ter matado o ciclista). E acrescentou que, se tivessem sorte, esse bandido iria aparecer morto na manhã seguinte. Menos um, disse. Menos um, concordaram os outros policiais.

Tive a nítida impressão de que o mundo deveria fazer eco com os policiais: ah, sim; menos um. Pois é, um bandido a menos nas ruas.

Acrescente-se um "aleluia"?

Tentei argumentar que ninguém pode agir contra a lei, como havia feito o dono do carro. O policial me respondeu que a lei em vigor é velha demais; não funciona. Melhor matar mesmo.

Cá entre nós, a falange vermelha (acho que o nome era esse) não dizia exatamente isso? Se todo mundo agir do mesmo modo, os policiais não terão de caçar ladrão de galinha, mas isso é tudo?

Mas o bandido era mesmo bandido? Muito provavelmente. Afinal, estava de bicicleta.

A história toda, como disse, aponta para uma circunstância bem simples: o ciclista roubou, junto com outra pessoa, o toca-fitas da EcoSport. O dono viu e saiu em perseguição dos dois. Um dos supostos ladrões veio parar em minha rua, fugindo da perseguição, mas não estava com o toca-fitas. Então o dono do carro o obrigou a acompanhá-lo mesmo ferido (ainda que não gravemente) em perseguição ao companheiro, para resgatar o objeto roubado.

Certo. Acho que entendi.

A grande ironia é que chamamos a polícia para que ajudasse de algum modo o ciclista.

Monday, January 23, 2006

Egoísmo esclarecido

Quanto menos racional for o homem, com mais frequência deixará de perceber que o que prejudica os outros também lhe faz mal, porque o ódio ou a inveja o cegam. Portanto, embora eu não pretenda que o egoísmo esclarecido seja o mais elevado padrão moral, afirmo que, se se tornasse comum, tornaria o mundo imensamente melhor do que é.

Bertrand Russell, Ensaios Céticos.

Sunday, January 22, 2006

Mitologias (8): Hécate é passado

No começo do livro O Banquete, de Platão, Sócrates menciona as Hecatéias, festa popular que acontecia uma vez por mês, em homenagem à deusa Hécate.

O ritual consistia basicamente em deixar alimentos nas entradas e nos portões da cidade para alimentar os viajantes. Além, é claro, de música e dança.

Fiquei curiosa a respeito da deusa Hécate, uma divindade menor.

Ela é a deusa da escuridão.

Hmmm. Gostei.

Três cabeças, roupas negras, habitante das profundezas do Hades.

Fascinante.

É a deusa protetora dos cães. Sempre acompanhada de três cachorros.

Nossa. Vou me converter ao paganismo hoje mesmo.

Mas então descobri que, como ela é a deusa dos cães, as hecatéias incluíam o sacrifício de um cachorro à deusa.

Não entendi porque é preciso sacrificar um cachorro por mês à deusa protetora dos cães para que ela continue protegendo os cães.

Horrível.

Minha carreira de convertida ao paganismo chegou ao fim antes mesmo de começar.


Saturday, January 21, 2006

Mitologias (7): ...e Zeus criou a mulher

Pois é.

Zeus criou os homens, feitos do mais puro barro do Olimpo (ou da terra mesmo, tanto faz), mas não deu muito certo, não. Eles eram mesmo arrogantes e desprezavam seus criadores.

Lá pelas tantas, e quatro gerações de hominídios depois, Prometeu, tio e conselheiro de Zeus, roubou o fogo dos deuses e deu aos homens.

Não havia nada que Zeus pudesse fazer: os homens aprenderam rapidamente a usar o fogo, ficaram independentes e acharam novamente que não precisavam de zeuses.

O que fazer? pensou Zeus.

O que fazer?, repetiram os deuses.

Era preciso que os homens tivessem um problema, um grande problema, do qual nunca se livrassem... e alguém teve a brilhante idéia: inventa a mulher, ué.

Genial!

Zeus criou uma mulher perfeita, mas garantiu que tivesse um defeito: ela era muito curiosa. O rei dos deuses entregou a Pandora (a mulher) uma caixa, que ela deveria guardar e jamais abrir.

Pandora resistiu por três dias e três noites.

Ao final, abriu a caixa e todos os deuses que tinham sido aprisionados por Zeus ali dentro saíram apressados: a dor, a doença, a fome, a miséria, a angústia, a inveja, o ódio, a traição, a desonestidade, a morte, a infelicidade, a tristeza, o fracasso etc etc.

Só uma deusa ficou na caixa e recusou-se a sair: Elpís, a esperança.

Friday, January 20, 2006

Mitologias (6): Alma gêmea

E por falar em Zeus, eis aí um sujeito que tem tudo: poder, riqueza, imortalidade, mulheres, inteligência, esperteza, malícia, força, uma esposa ciumenta, filhos legítimos e ilegítimos, domínio sobre o céu e a terra e, claro, muito, muito tédio.

Para aliviar um pouco o tédio, Zeus achou que devia criar uma espécie animal um pouco mais evoluída: os seres humanos.

No início não havia homens e mulheres; apenas seres humanos gigantes, feitos do mais puro barro, que começaram a se sentir muito superiores aos demais animais e caíram no erro fatal de julgar que não havia deuses: eles eram deuses, porque reinavam absolutos na terra.

Zeus ficou contrariadíssimo. Ninguém pode ser deus se não é adorado, né?

Então Zeus ordenou a Apolo que recolhesse todas as criaturas arrogantes e as deitasse sobre uma superfície lisa. Em seguida, Apolo cortou um a um, pela metade. A primeira metade, moldou como homem. A segunda, como mulher.

Então Apolo devolveu todos à terra, tomando cuidado para que as metades jamais voltassem a se encontrar. Assim, os humanos seriam sempre seres insatisfeitos, procurando a metade perdida. Se a encontrassem, tornar-se-iam um só novamente, seriam arrogantes outra vez e negariam os deuses.

Melhor deixá-los incompletos, procurando a alma gêmea.

Wednesday, January 18, 2006

Mitologias (5): Fôlego divino

Em mais uma dessas minhas ocupações inúteis e divertidas, fiz uma pesquisa sobre a descendência de Zeus e encontrei o seguinte:


Com Mnemósine - as 9 musas:
Clio – História
Talia – Teatro (Comédia)
Calíope – Eloqüência
Melpômene - Teatro (tragédia)
Euterpe - música
Plohymnia - Poesia lírica
Erato - poesia de Amor
Urânia - Astronomia
Terpsícore - Dança


Com Deméter:
Perséfone

Com Hera:
Hefestos
Ares
Ilítia
Hebe


Com Têmis:
Astréia
Horas
Moiras


Com Alcmena:
Héracles

Com Eurinome: as 3 Graças
Aglaia
Eufrosina
Talia


Com Leto:
Apolo
Ártemis


Com Métis:
Atena

Com Sêmele: Dioniso

Com Dânae:
Perseu

Com Maia:
Hermes

Com Electra:
Dárdano
Iásião


Com Egina:
Éaco

Com Antíope:
Anfião
Zeto


Com Taígete:
Lacedêmon

Com Plouto:
Tântalo

Com Io:
Épafo

Com Calisto:
Arcas

Com Carme:
Britomártis

Com Europa:
Minos
Radamanto
Sarpedão


Com Níobe:
Argo
Pelasgo


Com Leda:
Helena
Pólux
Cástor


45 ao todo, mas a lista não é definitiva. Pode aumentar. Afinal, Zeus não está morto.

Tuesday, January 17, 2006

Ué...

Foi em vão que procurei livros de cozinha na Biblioteca de Dijon.

Gaston Bachelard, filósofo e cientista francês.

Monday, January 16, 2006

Estudante profissional

Estudo! Sou unicamente o sujeito do verbo estudar. Pensar: a tanto não ouso.

Gaston Bachelard

Sunday, January 15, 2006

A maldição da corrente

Antes de haver internet, lembro-me de receber cartas que me prometiam riqueza instantânea ou garantiam fracasso iminente, dependendo única e exclusivamente do modo como eu agiria em relação a elas: se as repassasse a dez, vinte pessoas, ótimo; ficaria rica. Se as ignorasse, perderia o emprego. Se apenas as esquecesse em algum canto, teria algum aborrecimento de menor importância. Mas, se eu me atrevesse a destruí-las, então algo terrível me aconteceria.

Um papel, algumas linhas escritas, e eis o sagrado.

Na era da internet, com a facilidade de envio e o custo zero, as correntes se multiplicaram. O discurso, no entanto, é o mesmo, apelando primeiro para a curiosidade do leitor; depois para o seu interesse, acenando com alguma vantagem; depois para o medo, prometendo algum prejuízo e, por fim, o que interessa a quem criou a corrente: o pedido para que seja reenviado.

Pronto! Só isso, e recebo pelo menos uma dessas bobagens por semana. Fico me perguntando se quem me envia acredita no que leu (no caso de ter lido, claro).

Suponho que o fato de ter recebido a corrente atesta que ela tem, no mínimo, o poder de se multiplicar. E de se manter no domínio do sagrado, alimentada pela lógica do "por via das dúvidas", mas isto significa ter medo do que um pedaço de papel pode fazer. Ou melhor, um e-mail.

No fundo, ninguém espera que a corrente traga felicidade, mas todo mundo que a reenvia de boa fé acredita secretamente que ela possa trazer infelicidade.

A boa notícia é que, hoje, quebrar a corrente só exige dois toques do mouse. Três, para confirmar.

Saturday, January 14, 2006

Alguém me ama

Definitivamente, alguém me ama. Tanto, que quer me ajudar a administrar minha conta bancária.

Toda semana recebo cartões que não abro, fotos que não vejo, mensagens que não leio. Mas nem precisa; o título já diz tudo: mal redigido, com erros de português e o invariável alguém que ama você-bolinha de gude-caixinha de fósforo.

Agora começou a circular outro spam da mesma natureza: alguém do meu passado quer rever antigos amigos. Para que eu saiba de quem se trata, já que não me lembro do nome (o que é natural), devo clicar no link e ver as fotos. Pronto, não é necessário mais nada para ter um programinha instalado em meu computador.

Será possível que alguém ainda caia nesse tipo de coisa? Há alguém, em sã consciência, que abre arquivos indicados por mensagens obviamente falsas?

Sim, né. Caso contrário, estes e-mails não seriam enviados. E, de qualquer modo, basta abrir o e-mail para que o programa já seja instalado. O melhor mesmo é enviar todo mundo que te ama muito direto prá lixeira, sem pensar duas vezes. Garanto que não vai se arrepender.

Friday, January 13, 2006

Cadê eu, cadê eu?

O filósofo Severino Cemitério informa:

"A razão do temor à morte é a repugnância do indivíduo em tornar-se transparente a si mesmo".

Soren A. Kierkegaard. Equilíbrio entre os estágios ético e estético no desenvolvimento da personalidade. In: Ou, ou.

Thursday, January 12, 2006

O verdadeiro nefelibata

Há uma cabeça nas nuvens.

Será um pássaro?

Um avião?

Um helicóptero?

Um urubu?

Talvez o super-homem?

O duende verde?

Zeus?

Urano?

Quem sabe o Faetonte?

A coruja de Minerva?

Não.

É apenas um ET, dizem.

Mas o que há com certeza é uma nuvem na cabeça.


Wednesday, January 11, 2006

Nefelibata (4): nativo de Stratus

As nuvens do tipo Stratus compõem o céu cinza, formando uma camada baixa, uniforme, semelhante ao nevoeiro, que pode produzir chuvisco. Consequentemente, os nativos deste signo têm forte tendência à melancolia, à depressão e à tempestade em copo d'água.

Embora sua característica mais marcante seja mesmo o apreço pelo sofrimento, os nativos de Stratus tendem a reduzir tudo a preto e branco. A disposição lacônica e reservada de um Stratus não nos permite ir além de uma análise superficial de seu temperamento e caráter.

Previsões para 2006: Alegre-se, Stratus. Os céus lhe prometem uma boa dose de nevoeiros e chuviscos para o ano. Em maio, Mercúrio estará em oposição a Marte, o que lhe garantirá o sofrimento inútil a que tem direito, mas o inferno astral só virá mesmo a partir de agosto, quando o Sol se alinhará em conjunção com Vênus. Exercite a paciência, Stratus, e todos os seus desejos serão realizados.

Cor: grafite

Vinho: tinto

Pedra: pomes

Tuesday, January 10, 2006

Educação moral e cívica

Relendo o Emílio, de Jean-Jacques Rousseau, encontrei esta pérola:

O mestre: Não se deve fazer isso.
A criança: E por que não se deve fazer isso?
O mestre: Porque é ruim.
A criança: Ruim! O que é ruim?
O mestre: O que lhe proíbem.
A criança: Que mal existe em fazer o que me proíbem?
O mestre: Punem você por ter desobedecido.
A criança: Eu faço as coisas de um jeito que ninguém fica sabendo.
O mestre: Vão espioná-lo.
A criança: Eu me esconderei.
O mestre: Vão fazer-lhe perguntas.
A criança: Eu mentirei.
O mestre: Não se deve mentir.
A criança: Por que não se deve mentir?
O mestre: Por que é ruim, etc.

Monday, January 09, 2006

Serviço de inutilidade pública

Na lista de testes inúteis que mencionei aqui, faltava este: que tipo de ídolo americano é você?

"De cantar no chuveiro a dançar no carro, todos nós somos algum tipo de ídolo americano. Descubra qual é o seu."

Muito bem. Agora só me resta fazer o teste. Em inglês, claro.

E la nave va.

Sunday, January 08, 2006

Índex

A propósito de Eram os deuses astronautas?, lembrei dos livros proibidos de minha infância e adolescência, dos livros "recomendados" e dos que ninguém me viu ler. E fiz uma lista:

Livros proibidos:

- Eram os deuses astronautas?, de Erich Von Daniken: primeiro na lista dos proibidos, mas nem precisava. É inocuo.
- Doutor Jivago: sim, por incrível que pareça, fui proibida de lê-lo. A censura doméstica o considerava imoral. Li, claro, mas só lembro de ter chorado muito. Mais nada.
- O egípcio, de Mika Waltari: este, sim, fez diferença. Ainda tenho uma viva lembrança do momento em que o egípcio encontrou o deus morto.
- O Capital, de Karl Marx: esse nem era necessário proibir, porque eu não o leria de qualquer modo. Nunca me interessou o bastante.
- Madame Bovary, O amante de Lady Chatterly, Anna Karenina, Moll Flanders, Bola de Sebo, Manon Lescaut: tudo muito imoral, segundo me disseram. Li, né.
- ...E a Bíblia tinha razão, de Werner Keller: cometia o pecado de tentar explicar os milagres da Bíblia à luz da ciência. Li, reli e mantenho em conserva.

Livros recomendados, que não precisaria ter lido:

- Pollyanna e Pollyanna moça, de Eleanor H. Porter - A praga do "jogo do contente" atormentou minha infância e adolescência. Eu achava que, se tentasse olhar o lado bom das situações adversas, tudo estaria bem.
- O pequeno príncipe. Li a biografia de Saint Exupèry constante do livro "De Proust a Camus", de André Maurois, e desenvolvi uma certa antipatia pelo homem. Só li "O pequeno príncipe" porque estava ficando chato não conhecer. Até os amigos me recomendavam. Mas não tenho talento para a doçura e já estava contaminada pela biografia do autor. Não consegui nem achar lindo.
- Coração de Vidro, de José Mauro de Vasconcelos: esse livro me deixou muito triste. Não é de se admirar que o autor acabasse se matando. Sensível demais. Doído demais.

Livros que ninguém me viu ler:

- Giovanni, de James Baldwin: para quem também lia Bárbara Cartland, este livro foi absolutamente chocante. Até então, nunca me passara pela cabeça que o amor entre dois homens pudesse ser romântico.
- Temor e Tremor, de Kierkegaard: o único livro que tive de fechar. Só retomei a leitura anos depois. Senti o edifício balançar seriamente, e eu nem tinha entendido direito.

Saturday, January 07, 2006

Atlântida, eugenia e nazismo: tudo a ver

Platão, o filósofo grego, conta-nos de uma civilização extinta no passado remoto, detentora de grande conhecimento, sabedoria, justiça social e riqueza.

Atlântida pode ser relacionada facilmente com as cinco raças de Hesíodo: houve no passado uma raça superior à nossa, mais próxima da divindade.

É aí que entra o nazismo: a espécie humana já foi superior ao que é hoje, já foi uma "raça" intelectual, moral e esteticamente superior. Onde? Em Atlântida, claro!

Não é invenção minha. Himmler, um dos generais de Hitler, achava que os arianos vieram da cidade perdida e se empenhou árduamente na tarefa maluca de descobrir, entre os alemães, algum descendente dos antigos habitantes de Atlântida.

Hitler não foi o único maluco do III Reich.

Lamentavelmente esse mito, por mais inocente que pareça, já deu ensejo a um romantismo tosco, excludente, às vezes brutal, que começa invariavelmente com uma única premissa: a recusa da condição humana.

Aliás, todo romantismo começa com a recusa da condição humana.

Friday, January 06, 2006

Nefelibata (3): nativo de Cumulonimbus

Associado à presença de nuvens escuras, prenúncio de tempestades, chuvas fortes, raios, granizo, furacões e tornados, o signo de Cumulonimbus é, naturalmente, o mais furioso do zodíaco. O nativo deste signo tem um temperamento explosivo, irascível, sanguíneo, colérico, ciumento, vingativo e sujeito tanto a rompantes de entusiasmo quanto a acessos de fúria sem razão aparente. Cumulonimbus tem pouca propensão a doenças como a depressão e a úlcera gástrica, mas deve tomar cuidado com a pressão arterial.

Conselho: Nem tudo está perdido, Cumulonimbus. Em 2006, tente exercer maior controle sobre seu temperamento.

Animal: touro

Pedra: ardósia

Thursday, January 05, 2006

Mulher de preto

Adoro filmes góticos, aqueles com fantasmas, segredos, casas velhas e abandonadas. Encontrei um muito bom: The woman in black.

Uma mulher idosa, que vivia sozinha em uma casa isolada, morre. O advogado envia um assistente para cuidar do velório e fazer um levantamento do patrimônio. Mas nada acontece como previsto.

Embora esteja repleto de todos os clichês do gênero, é um bom filme, que tem o mérito de dispensar o final feliz. A atmosfera é opressiva; o medo que o jovem advogado sente chega a ser palpável.

Apenas entretenimento, mas bom entretenimento.

Wednesday, January 04, 2006

Aula de charlatanismo do Dr. Faniken

Na adolescência, qualquer coisa que tivesse letras me encantava, mas eu tinha um fascínio especial pela aura de segredo que o livro Eram os deuses astronautas? possuía. Absolutamente fascinante e intrigante, mas inacessível para mim. Ninguém em minha família leria, ou me permitiria ler, um livro considerado "maldito", o que o tornava ainda mais fascinante.

Um dia, consegui o livro emprestado e o devorei em poucas horas, achando que ia encontrar grandes mistérios da humanidade revelados. Ledo engano. Tudo não passava de um amontoado de abobrinhas, mediocridade, charlatanismo e sensacionalismo. É que eu já não acreditava em Papai Noel (embora o Elvis ainda fosse importante para mim).

Os amigos achavam tudo possível. Eu achava que tinha perdido tempo.

Na semana passada esbarrei, por acaso, em um documentário sobre o livro, em DVD. Confesso que pensei em comprar, recuperei o bom senso em seguida e já o perdi outra vez. Vou mesmo comprar o DVD (só o DVD). Eram os deuses astronautas? não instrui, mas diverte.

A teoria mais estapafúrdia do Dr. Fon Faniken, de que me lembro (e também a mais evidentemente falsa), é a que envolve os habitantes de Atlântida: a cidade teria existido e abrigado a civilização mais avançada que já passou sobre a Terra. O segredo de tanto sucesso? A cópula!

Explico: os habitantes de Atlântida teriam sido abduzidos (y otras cositas más) por astronautas vindos do espaço. Enquanto engravidavam as terráqueas, eles ensinaram aos homens tudo o que sabiam.

Só não ensinaram os humanos a preservar a sua descendência (dos E.T.'s), já que Atlântida desapareceu. Mas sabe-se lá. De repente até ensinaram e eu é que não fiquei sabendo.

Quanto a mim, aprendi muita coisa com Erich Von Daniken, mas não sobre extraterrestres. Basicamente, aprendi algo sobre best sellers.

Tuesday, January 03, 2006

Tenha fé

Assisti recentemente ao Fator Desconhecido, do canal Discovery, programa que pretende abordar objetivamente fenômenos paranormais, comunicação com os mortos e bobagens do gênero.

A umbanda foi um dos assuntos tratados: mulheres enlouquecidas ensaiando uma dança da chuva, caindo no chão e tentando engrossar a voz. Nada disso me interessa particularmente. O que me chamou a atenção foi o argumento, de uma das mulheres filmadas, de que ela recebeu um espírito porque não poderia provocar o efeito do transe em si mesma, porque não tem lembrança do fato e porque estava inconsciente.

Supondo a semi-inconsciência e a falta de memória, o que isso prova?

Que não acreditamos no homem.

O argumento é o seguinte: o ser humano não é capaz de gerar esses fenômenos sem ajuda externa. Logo, a causa não é humana.

Mas tenha fé.

Tenha muita fé.

Monday, January 02, 2006

Fantasma residual

Às vezes os espíritos vão embora, mas deixam resíduos.

Quer saber se está diante de um fantasma, ou de resíduos de fantasmas?

Fácil, fácil.

Observe se a aparição faz sempre as mesmas coisas. Fantasma tem personalidade, tem vontade, se entedia, quer variedade. Portanto, se o seu fantasma emite sempre os mesmos sons, à mesma hora, muito provavelmente ele já foi embora. Só ficaram os resíduos.

Tente se comunicar com o espírito. Se ele não responder, pode ter certeza: ele não está lá.

É só resíduo. Algo como a presença das estrelas no céu, compreende? O que vemos é o passado do céu. Assombrações repetitivas são apenas resíduos do passado.

Simples assim.

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O assunto é sério. Clique no título.

Sunday, January 01, 2006

Nefelibata (2): nativo de Cirrus

As nuvens do tipo Cirrus são finas, delicadas, fibrosas, formadas de cristais de gelo. Portanto, as pessoas nascidas sob esse signo são elegantes, de gestos contidos, voz baixa, tez delicada. De boa estatura, geralmente altos e longilíneos, os nativos de Cirrus têm a certeza de que foram reis em outra encarnação. Seu marcado interesse pela aparência às vezes os leva a fazer julgamentos apressados. A delicadeza de trato dos nativos do sexo masculino frequentemente sugere um coração gay. O mesmo não acontece com os nativos do sexo feminino.

Conselho: em 2006, tente olhar além das aparências, Cirrus. A verdade gosta de se esconder.

Pedra: ametista

Cor: verde

Vento: Zéfiro