Wednesday, November 30, 2005
Cruzadas (3): A marcha das crianças
Era preciso uma injeção de ânimo e fé, e o vaticano deu prova de entender bem do assunto: alegou que os cruzados não recuperaram Jerusalém (e com ela o Santo Sepulcro) porque eram pecadores. Claro, eram adultos e adultos pecam até em pensamento. Somente alguém puro de espírito poderia devolver a Terra Santa aos cristãos.
Quem é puro de coração nessa terra? As crianças, claro.
Então o problema todo consistia em convencer as crianças e seus pais de que Deus precisava delas - coisa, aliás, facílima - e eis o absurdo dos absurdos: cinqüenta mil crianças marchando para Jerusalém, arma em punho e adulto aproveitador ao lado, marchando para lutar contra os muçulmanos, armados sobretudo de pureza.
Muita pureza, que acabou na morte precoce e na escravidão.
Quem não morreu foi vendido como escravo.
Tuesday, November 29, 2005
Cruzadas (2): Chovendo cabeças
No entanto, o exército de Saladino, o grande líder sarraceno, estava tendo vitórias importantes sobre os cristãos, na cidadezinha de São João D’Arce, porto do Reino de Jerusalém. Seu propósito claro era a retomada da cidade.
Ricardo Coração de Leão, rei inglês (1157-1199), o grande herói cruzado, dirigiu-se em 1191 ao porto de São João D’Arce, sitiado há vários meses pelos cristãos, cujo exército se encontrava enfraquecido e desanimado.
Eis a situação: o sítio já se estendia por longos meses e, embora cercados, os habitantes de Arce não davam mostras de que se renderiam. Os muros da cidade eram resistentes o bastante para serem derrubados e Saladino não tardaria a enviar mais tropas para combater os cristãos. Ou seja, se esperassem um pouco mais até a rendição da cidade (já que, sitiada, os habitantes sofriam com a falta de alimentos e água e não tardariam a se render), enfrentariam as tropas competentes de Saladino. Se desistissem, estariam a um passo de perder novamente Jerusalém. Só havia uma coisa a fazer: obrigar os habitantes de Arce a se entregar.
Os recém-chegados, Ricardo e o rei da França, Felipe Augusto, construíram enormes catapultas, mas o que lançaram à cidade não foram pedras ou tochas. Ricardo ordenou que os habitantes das regiões circunvizinhas, miseráveis que não puderam se abrigar dentro da cidade, fossem degolados um a um. De hora em hora uma cabeça era atirada por sobre o muro, com o auxílio da catapulta.
Imagino o terror dos habitantes de Arce, sob uma chuva de cabeças. Em pouquíssimo tempo renderam-se todos.
Monday, November 28, 2005
Cruzadas (1): A Cruzada dos Mendigos
Um tal Pedro Eremita, um padre fanático, achou que a conquista de Jerusalém era sua missão. Com a ajuda dos miseráveis de Cristo, haveria de conseguir.
Afinal, o Reino de Deus é dos pobres de espírito e de bolso, certo?
Certíssimo. Pedro Eremita reuniu, em 1096, uma multidão de fiéis miseráveis armados de paus, pedras, facas, facões, enxadas, panelas, estilingues, etc. e rumou em direção à Terra Santa... e ao Santo Sepulcro: foram todos massacrados pelos turcos.
Sunday, November 27, 2005
Relógios parados
É verdade, mas o mesmo vale para relógios quebrados.
Isto significa também que relógios que funcionam podem nunca estar certos, o que é verdade também, mas é uma idéia curiosa achar que estar parado no tempo significa acertar vez ou outra (ainda que na maior parte das vezes esteja errado) e mover-se significa a possibilidade de errar sempre.
Saturday, November 26, 2005
Catalogando aparições (1): Cristo
Juntas, talvez elas soem como o que realmente são: fantasias tolas, com um tempero de insanidade e megalomania.
Eis as do campeão, Jesus de Nazaré, vulgo INRI:
- batata frita
- armário
- mancha em parede de banheiro
- tronco de árvore
- pão de forma
- cortina
- pedra
- folha de árvore (desenhado por formigas)
- peixe
- ostra
- sanduíche
E as últimas:
- Caminhonete (vide link do último post)
- Osso de peixe (http://www.nbc4.tv/news/5190133/detail.html)
- Janela (http://www.nbc4.tv/news/4541162/detail.html)
- Raio-X de dente (http://www.nbc4.tv/news/3968497/detail.html)
Repetindo: raio- x de dente.
Atenção: Cristo apareceu no raio-x de um dente.
O que ele pode estar querendo nos dizer?
Quanto a Maria, Elvis e Papai Noel, deixo para outro dia.
Friday, November 25, 2005
Ói nóis aqui travêis!
Bom é que a face de Jesus é desenhada pela poeira.
Essa caminhonete nunca mais vai ser lavada, mas aposto que vai ser vendida. No e-bay. Quem sabe na Amazon. Talvez até no Mercado Livre.
Só quero saber quando é que Cristo vai aparecer em um espelho. Isto seria interessante para a psicologia. Vai-se direto ao ponto.
Thursday, November 24, 2005
Assassinados ilustres
Wednesday, November 23, 2005
Os filósofos e a felicidade (3): ser ou não ser
Misture duas colheres de impassibilidade com três xícaras de ausência de crenças. Junte à massa três copos de ausência de opiniões, uma pitada de controle das sensações e tempere com a convicção de que cada coisa “é e não é”. Ou seja, de que não há nada definitivo. Cozinhe em fogo brando por toda a vida.
Eu não experimentei, mas acho que funciona. Especialmente a última parte.
Tuesday, November 22, 2005
Vitória de Pirro
Pirro (318 a.C. - 272 d.C.), cujo nome significa "ruivo", foi um grande general, rei do Épiro e da Macedônia e ofereceu alguma resistência a Roma.
Em uma batalha contra os romanos, Pirro venceu, mas perdeu 3500 homens, uma parcela considerável de seu exército.Quando o saudaram pelo sucesso, disse: "mais uma vitória como esta, e estou perdido".
Muito bem dito, mas ele não chegou a ganhar novamente para saber se tinha razão. Pouco tempo depois, em uma batalha nas ruas de Argos, uma velha que se encontrava no alto de um edifício o acertou com uma telha. Pirro ficou desacordado tempo o suficiente para ser morto pelo adversário.
Monday, November 21, 2005
Brigando pela sombra e perdendo o essencial
Um viajante alugou um asno para levá-lo a um lugar distante. O dia estava muito quente, o sol brilhava em plena força, e o viajante resolveu parar para descansar. Para amenizar o calor, refugiou-se à sombra do asno.
O dono do asno achou que o aluguel só dava direito ao uso do animal e não da sombra. O viajante alegava que tinha pago pelo asno e, portanto, pela sombra.
A disputa ficou acirrada e logo passou aos tapas e socos.
Enquanto brigavam, o asno fugiu.
Sunday, November 20, 2005
Filho de Miguelangelo, sim. Por que não?
Preconceito?
Falta de sensibilidade artística?
Seja como for, o juiz não apenas condenou o grafiteiro, como também lhe deu uma bela bronca: Doherty podia achar que era o filho de Miguelangelo, mas não passava de um vândalo, sujando a cidade com rabiscos feios.
A resposta de Doherty foi surpreendente: ele reproduziu, durante o julgamento, a Criação de Adão de Miguelangelo usando apenas spray e um quadro.
O juiz não se deixou convencer: "Os grafiteiros podem até ser talentosos, mas o que fazem é ilegal. E estão muito distantes de Miguelangelo".
Doherty vendeu seu Miguelangelo por 800 libras.
Saturday, November 19, 2005
Briga de filósofos (2): Voltaire X Rousseau
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778 ) enviou a Voltaire (1694-1778) um exemplar de seu Discurso sobre a origem da desigualdade entre os povos, em que argumentava contra a civilização, a ciência e as letras e defendia o retorno a uma condição natural em que os homens viveriam como animais.
Voltaire respondeu: "Recebi, senhor, vosso novo livro contra a espécie humana, e agradeço-vos a remessa... Ninguém foi tão espirituoso como vós ao tentar nos transformar em animais; ler o vosso livro faz com que sintamos vontade de andar de quatro. No entanto, como abandonei essa prática há cerca de sessenta anos, acho que me é infelizmente impossível voltar a adotá-la".
Sobre o Contrato Social de Rousseau, Voltaire diz: "Jean-Jacques se parece tanto com um filósofo quanto um macaco com um homem".
E ainda: "Jean-Jacques é o cão de Diógenes que ficou louco".
Placar: Voltaire 3, Rousseau 0.
Friday, November 18, 2005
ET cearense
O mais provável é que se trate do crânio de um animal terrestre, que tenha nascido com alguma deformação. Em todo caso, os ufólogos, que dizem não descartar nenhuma possibilidade, acham que é mesmo um extraterrestre, falecido talvez durante o pouso do disco voador. Mas pode ser também um chupa-cabra que morreu de fome no nordeste. Sabe-se lá.
Wednesday, November 16, 2005
Mitologias (2): A cama de Procusto
O mito não conta, mas o provável é que ninguém conseguisse sobreviver à cama de Procusto.
Tuesday, November 15, 2005
Mitologias (1): Pigmaleão e Galatéia
Durante dias e noites pediu à deusa Afrodite que desse vida à sua escultura, que fizesse viver seu ideal. Tanto implorou, que a deusa o atendeu: a pedra transformou-se em carne e ossos e a mulher ideal ganhou vida. Pigmaleão, o escultor, deu à sua deusa encarnada o nome de Galatéia.
Dizem alguns que eles se casaram e foram felizes para sempre. O homem e seu ideal.
Engraçado que essa história seja uma das poucas com final feliz da mitologia grega.
Monday, November 14, 2005
Automedicação (2): hidropsia
Lá pelos sessenta anos, o tipo de vida que levava começou a pesar. Heráclito arrumou uma doença chamada "hidropsia", espécie de barriga d´água. Retornou à cidade, à procura de um médico, mas ao invés de perguntar quem poderia curá-lo da hidropsia, quis saber se havia alguém na cidade que seria capaz de "transformar um aguaceiro numa seca".
Não foi entendido, claro, e teve de se automedicar.
Pois bem. Heráclito receitou a si mesmo deitar sob o sol quente e cobrir-se de esterco. A idéia era aquecer o corpo o bastante para que a água em excesso do interior secasse. Em dois dias estava morto, sem que se tenha certeza da causa da morte.
De todo modo, verdade seja dita: ele conseguiu se livrar da doença.
Sunday, November 13, 2005
O belo e o feio
Ainda sobre Bollywood: apesar de retratar a Índia, um país onde há muita pobreza, não há feiúra no filme a que assisti. As pessoas são belas, muito bem vestidas, vivem bem (apesar de se dizerem pobres), viajam pelo mundo, são felizes e não têm conflito. Ou seja, tudo perfeito e ilusório.
Já o cinema árabe, ao menos o que tenho visto, destaca a pobreza, a mesquinhez, a pequenez e, ao mesmo tempo, a grandeza diante da adversidade. O retrato do país é, via de regra, centrado na pobreza e na feiúra. As pessoas são feias, mal vestidas, ignorantes. As ruas são vielas sujas, sem asfalto. A esperteza e o oportunismo reinam. É tudo muito feio.
Não há o que discutir: os filmes árabes, se comparados aos indianos de Bollywood, são infinitamente superiores. Mas qual é o critério que me permite fazer essa afirmação? O realismo? Desde quando o realismo virou um certificado de qualidade da arte?
Quando foi que começamos a cansar da mentira e a exigir a verdade?
Saturday, November 12, 2005
Eu e Bollywood: história de um tédio
Eu tolero quase tudo no cinema, menos dramas familiares e filmes em que, do nada, alguém começa a cantar ou a dançar.
Imagine esse diálogo:
Alguém diz
-- Quando viajará?
Outro alguém responde, com voz de soprano, começando stacatto e terminando pianíssimo:
-- Não irei, não irei, não irei... Laralaralá, laralaralá... meu lugar é aqui... laralaralá... sempre foi... larali... sempre será... laralá... la... ra... lá...
E isso é tudo? Ledo engano!
Outra pergunta boba, e lá vem novamente Pavarotti ou Maria Callas, responder com uma cantoria besta de dez minutos. Ninguém merece. Por que não contam a história, simplesmente?
Enfim. Bollywood é a indústria do cinema de Nova Delhi, quase tão popular quanto Hollywood. Para consumo interno. Agora que já sei disso, posso voltar a assistir aos filmes iranianos. Sem culpa.
Friday, November 11, 2005
Automedicação (1): gagueira
No entanto, ele tinha uma dificuldade: era gago. Um problema realmente sério, na Grécia Antiga.Os gregos tinham grande amor pela beleza dos discursos e tendiam a apoiar quem se expressasse bem. Um gago que tentasse convencer a Assembléia de que era suficientemente competente para conduzir um exército jamais seria bem sucedido. Não conseguiria sequer se fazer ouvir. Seria necessário, antes, curar a gagueira, tarefa impossível para a época.
Mas Demóstenes curou a si mesmo com uma estratégia que, segundo consta, ele mesmo criou: todos os dias, deslocava-se para o alto de uma colina, enchia a boca de pedras e discursava para o vale (a fim de que o eco o informasse dos progressos). Alguns anos, e estava curado.
Tornou-se um dos grandes oradores da Grécia e o melhor estrategista que seu país conheceu.
Thursday, November 10, 2005
Teste de QI
A diferença entre este teste e os demais que mencionei aqui é que este tem - ou pretende ter - um caráter científico. Ou seja, supõe-se que contenha alguma verdade e seja útil.
Wednesday, November 09, 2005
Perguntinha Básica (3)
Ahá! Encontrei um furo na teoria evolucionista!
Tuesday, November 08, 2005
Você sabe o que é um Kraken?
Kraken é um monstro marinho lendário, da mitologia nórdica. Uma criatura semelhante à Cila, da mitologia grega: gigantesca, cheia de tentáculos, que tem como único objetivo devorar tudo o que encontra pela frente.
A gente sabe que a Cila é uma fantasia, mas os Krakens existem. Eles teriam aparecido pela primeira vez na Noruega, no século XII, e seriam do tamanho de uma ilha.
É, uma ilha. Pequena, certamente.
Exageros à parte, os Krakens seriam lulas gigantes, que chegam a 20 metros (sim, 20 metros!) e são bastante agressivas.
Não é de admirar que se criassem tantas histórias em torno do animal.
Monday, November 07, 2005
O paraíso dos testes
Não deu prá saber que tipo de vaca eu sou, porque o link não abriu, mas fiquei sabendo que não sou nem um pouco paranormal, porque minha mente está "muito materializada", o que quer que isso signifique.
Veja alguns dos testes da página:
--Que instrumento musical você é?
--Que comida de pobre você é?
--Que inseto você é?
--Que carro você é?
--Que personagem da turma do Chaves você é?
--Que animal de estimação você é?
--Que música do Los Hermanos é você?
--Que ingrediente da Coca-Cola você é?
--Que chocolate você é?
--Que personagem de Julia Roberts você é?
--Que prostituta do cinema você é?
--Que tipo de Bridget você é?
--Que aniversariante do dia nove de março você é?
--Você está com mais sono do que deveria?
--Que bicha famosa é você?
Pois é. Sabendo usar, não vai faltar.
Sunday, November 06, 2005
Aconteceu
Ao final, salvaram-se todos.
Saturday, November 05, 2005
O Cristo do armário
Ao ler a reportagem, fiquei imaginando a rua inteira de joelhos, diante do guarda-roupa, rezando.
Bizarro.
Insólito.
Já dizia Heráclito de Éfeso: "... e também a estas estátuas eles dirigem suas preces, como alguém que falasse a casas..."
Friday, November 04, 2005
Carreguei muita pedra nessa vida
Muito bem.
Minha missão para a vida atual é a de cultivar e distribuir o amor, a alegria e a felicidade.
Hã.
Empolguei e quis saber a vida passada da família inteira (sem conhecimento deles, claro): um viveu na Escócia em 1310, outro em Sumatra em 850, outro ainda foi filósofo, outro foi fazendeiro.
Meu pai acredita que foi escravo no Egito Antigo e ajudou a transportar pedras para a construção de uma pirâmide. É sério, ele tem certeza disso. Diz que sabe. Não, não é espírita. Nunca foi. Apenas sente que viveu no Egito. Diz que tem tudo a ver.
Mas como assim, "tudo a ver"?
Quando pesquisei a vida passada de meu pai e encontrei "África Central, 1550", ele ficou ligeiramente decepcionado.
Tudo bem, eu disse. Esta é só a última encadernação.
E la nave va.
Thursday, November 03, 2005
Olhe o passo do elefantinho
Por enquanto, só pegadas.
Sou capaz de apostar toda a fortuna que não tenho como o tal Pé Grande jamais vai aparecer, mas continuaremos encontrando as pegadas.
Wednesday, November 02, 2005
Observe os animais
Ah. Então era isso.
Tuesday, November 01, 2005
Óbvio ululante
Tudo bem, pode ser. Não é uma hipótese absurda. Em todo caso, o que importa é que, se o Sudário fosse verdadeiro, então todos aqueles que dizem ter visto Jesus teriam como reconhecê-lo.
Eu quero dizer: se um rosto aparece em uma batata frita, por que sabe-se com certeza que é Cristo? Esta é uma pergunta que sempre me fiz. A resposta é óbvia para qualquer católico: porque este rosto é o mesmo do santo sudário, ora!
Craro, craro. Óbvio ululante, como diria o Nelson Rodrigues.
Mas a verdade é que eu não tinha percebido isso.