Monday, August 29, 2005

Adão, Eva, o paraíso... e o tédio!

Diz o Severino Cemitério:

Sozinho no paraíso, Adão ficou bastante entediado. Para aliviá-lo desse mal, Deus lhe enviou Eva, e os dois passaram a ficar entediados juntos. Então Deus enviou-lhes os filhos e todos se entediaram em família. Povoaram o mundo, e passamos a nos entediar em massa (Soeren Kierkegaard. Either/Or, Crop Rotation).

Ou seja, o tédio entrou no mundo na exata medida da população: quanto mais gente, mais tédio.

Puxa. Ainda bem que o segredo da felicidade é a cegueira!

Sunday, August 28, 2005

Soprando velinhas

Viva! Este é o centésimo post do brogue! Cem posts, cem assuntos, cem dias.

Quando olho para trás e penso em tudo que vivi, tantas emoções...

Não acreditava que iria tão longe.

Mas o bom de tudo é que sopramos as cem velinhas ganhando mais que parabéns ou máximas de presente: meu humildíssimo brogue passou a ser respeitado pelos spammers. E de língua inglesa, ainda por cima.

Quem diria.

Não imaginei que pudesse ir tão longe.

Saturday, August 27, 2005

Espirro, logo não penso

Relendo Pascal, encontrei esta pérola:

O espirro absorve todas as funções da alma, tanto quanto o trabalho, mas não se tiram dele idênticas ilações em relação à grandeza do homem, por ser contra a sua vontade. Embora se provoque o espirro, é contra a vontade que este ocorre; não é provocado por si mesmo, mas com objetivo diferente; e, assim, não há prova de fraqueza e servidão do homem nessa ação. (Pensamentos, 160)

Resumindo:

- O trabalho e o espirro absorvem toda a energia do homem
- O espirro não é uma ação voluntária, ainda que provocada
- Aquilo que é voluntário é sinal de fraqueza e servidão
- Logo, espirrar não é sinal de fraqueza e servidão.

É isso mesmo, ou acabei de surtar?

A propósito, é bom que se diga: nenhuma filosofia do espirro que se preze deve passar pela fisiologia do espirro. De jeito nenhum.

Friday, August 26, 2005

Hamlet titubeou

Estava pensando no dilema de Hamlet: vingar o pai matando a mãe e arcar com as consequências práticas e funestas desta decisão, ou não fazer nada e arcar com as consequências morais da omissão.

Então me ocorreu: e se Hamlet recuasse? E se preferisse herdar o trono? E se o irmão de Ofélia o matasse? E se vingasse o pai e sobrevivesse, o que faria depois? E se ele fosse apenas um louco? E se voltasse para a Inglaterra e abandonasse definitivamente seu país? E se...?

Há um universo de possibilidades aí. Gostaria de explorá-lo.

Bem, a idéia eu já tive. Agora só falta escrever o livro.

Pena que não tenha tempo.

Thursday, August 25, 2005

Os filósofos e a felicidade (2)

Blaise Pascal (século XVII) também tem algo a nos dizer sobre a felicidade:

Quando, às vezes, me pus a considerar as diversas agitações dos homens, e os perigos e os castigos a que eles se expõem, na corte e na guerra, originando tantas contendas, tantas paixões, tantos cometimentos audazes, e muitas vezes funestos, descobri que toda a infelicidade dos homens vem de uma só coisa, que é não saberem ficar quietos dentro de um quarto (Pensamentos, 139).

Ora, ora, quem diria... Tão fácil, tão perto, e a gente nem imaginava! Olhe só:

- Felicidade é saber ficar quieto dentro de um quarto;
- Eu sei ficar quieta dentro de um quarto;
- Portanto, eu sou feliz.

Ainda bem, porque podia ser pior:

- Felicidade é querer ficar quieto dentro do quarto;
- Nem sempre eu quero ficar quieta dentro do quarto;
- Logo, nem sempre eu sou feliz.

Ou, ainda:

- Felicidade é não gostar de ficar quieto dentro do quarto;
- Eu geralmente gosto de ficar quieta dentro do quarto;
- Logo, eu raramente sou feliz.

Sei lá, mas tenho a impressão de que, quando os filósofos se põem a falar em felicidade, tudo está perdido. :-) São muito melhores quando chafurdam no vazio existencial, no nada, na inutilidade da vida, no absurdo, na angústia, no desespero, na ausência de sentido et cetera et cetera et cetera et cetera.

Ou não?

Wednesday, August 24, 2005

Até tu?

Assistnd ao flm "Socied Secrt III" no Telecine, ontem, fiq bast irritada kom as legds. Naum bastasse o flm ser pura prd d tmp, as legds eraum taquigráficas (êta palavrinha fora de contexto!) e o prtgz, prah lah d incipiente (outra palavrinha fora de contexto!). Desanimei. Ow, tv naum eh soh teen naum. Tah crto q u flmin era tp assim mto teen d+, ms nem td neh. rs rs rs rs rs. Entaum q tal fzr legds prah gnt grd tb. Blz????!! k k k k k k k k k k

Km eh q terminou o flmin, mez? Q foi q aconteceu kom os Skull? Naum vi ateh o fim.

Tuesday, August 23, 2005

Os filósofos e a felicidade (1)

Esta é de Schopenhauer (que, como todo bom pensador, também diz asneiras):

Quanto mais o nosso círculo de amigos se restringe, maior é a nossa felicidade: por isso é que os cegos são muito menos infelizes do que pensamos, fator que está na origem da tranquilidade que os caracteriza, bem como no ar plácido que o seu rosto deixa transparecer.

Ora... tá certo que restringir o número de amigos é boa coisa, mas não entendi como é que se conclui daí que os cegos são mais felizes.

O argumento é o seguinte:

- Os cegos são tranquilos,
- Os cegos têm um ar plácido
- Os cegos têm poucos amigos
- A tranquilidade, o ar plácido e o número reduzido de amigos são sinais de felicidade
- Logo, os cegos são felizes.

Puxa.

Nem vou dizer o que estou pensando.

Saturday, August 20, 2005

A dança de Shaw

Dança: expressão vertical de um desejo horizontal.

Bernard Shaw

Friday, August 19, 2005

Crematística

Descobri que o ato de acumular e produzir dinheiro é uma arte, e tem um nome: crematística. Engraçado, porque "crema" em grego quer dizer "coisa útil". Há algo mais útil que dinheiro?

Ah, sim. Aristóteles achava que "crematística" é uma espécie de prática abusiva que gera lucros para poucos às custas de muitos. É. Mas isso é outra coisa. Também tem a ver com o útil, mas é outra coisa, viu?

Wednesday, August 17, 2005

Faculdade de astrologia

Oba! A profissão de astrólogo acaba de ser regulamentada, com direito a carteirinha profissional expedida pelo Ministério do Trabalho e tudo o mais.

Agora já podemos fazer um curso superior em Ciências Astrológicas, quem sabe uma pós-graduação em Mapa Astral, talvez ainda um doutorado-sanduíche em Sinestria no Tibet, com extensão em Tarot em Rizhao, na província chinesa de Shandong. Vai dar até prá aproveitar e visitar um mosteiro budista. Tudo pelo científico, claro.

Wednesday, August 10, 2005

Istópi

Se há algo realmente insuportável na internet é o tal SMS.

Recebo mensagens duas, três vezes por semana dessa porcaria, algumas delas de mim mesma.

É que recebi o convite de pessoa conhecida, fui ao site, digitei a senha do e-mail e puf!, todos os endereços em minha caixa de correio foram anexados a uma espécie de mala direta do site e vão receber, ad aeternum, convites meus para o tal SMS.

A ironia é que, como o endereço de uma de minhas caixas de correio estava em outra, recebo toda semana convites de mim mesma para mim mesma. Demais, né?

Sim, já tentei, mas não consigo acessar o site para apagar o convite. É que me pedem a senha novamente, entende? Aí eu desisto. :-))

Tuesday, August 09, 2005

Bacon e o Dia da Geladeira

Lembro de um episódio da antiga “Família Dinossauro”, em que alguém propõe que seja criado o “Dia da Geladeira”, em homenagem à invenção que tornou mais fácil a vida dos carnívoros.

Eu penso que a data deva ser comemorada todo 9 de abril, data da morte de Bacon.

Sir Francis Bacon, lord inglês, filósofo-cientista, morreu em 09 de abril de 1626, aos 65 anos, mas a associação de Bacon com a geladeira vai muito além do óbvio: ele é o pai da idéia.

Bacon havia percebido que a carne de animais mortos, quando coberta pela neve, resistia algum tempo à putrefação. Ele imaginou que, se fosse possível conservar a temperatura baixa em uma espécie de câmara escura, os alimentos poderiam ser melhor conservados.

O que fez, então? Recheou de neve uma ave morta. Parece que ele pretendia calcular quanto tempo a carne resistiria à decomposição. Durante o experimento, Bacon apanhou um resfriado que acabou por matá-lo em poucos dias.

Não é no mínimo curioso que o mártir da geladeira seja um Bacon?

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Em tempo: A geladeira foi inventada por Carl von Linde em 1876. Para maiores informações, clique no título deste post.

Monday, August 08, 2005

Perguntinha básica (2)

Por que espera-se que a TV ensine e a sala de aula divirta?

Foi Deus quem quis assim

Impagável:

Homem, tu és senhor.
A mulher é tua escrava,
pois Deus assim o quis.

(Aurélio Agostinho)

É vero...

Sunday, August 07, 2005

Melhor revezar

Estava pensando... Se alguém inventasse a pílula da felicidade, o que aconteceria?

- Os médicos passariam a ter um número reduzidíssimo de pacientes;
- As farmácias praticamente fechariam as portas;
- As academias de ginástica ficariam vazias – quem se preocuparia em manter a forma, se a promessa de felicidade não fosse o prêmio?
- Os parques de diversão iriam à falência;
- Os circos virariam história;
- Os psicólogos perderiam o emprego;
- A indústria de cosméticos desapareceria da face da terra;
- A televisão perderia 99,9% de sua utilidade;
- Ninguém mais estudaria;
- Não haveria trabalho;
- Não haveria guerras;
- Schopenhauer, o pessimista, seria o maior filósofo que já existiu... Para estabelecer o contraditório e salvar o imaginário, entende?

Quem é que dizia mesmo que este é o melhor dos mundos? Ah, sim, o Pangloss...

Não é que ele tinha razão?

Saturday, August 06, 2005

Claro que é só luz

Tentou uma nova dieta, sem resultado? Experimentou terapias alternativas e nada? Jejuou, rezou e não emagreceu? Alegre-se! Eu tenho a solução definitiva para seu caso: você só precisa virar um ser de luz. Natural, claro.

Seu alimento, a partir de agora, será o prana, espécie de energia espiritual obtida através da absorção da luz solar. Funciona assim: você está morrendo de fome. Então se arrasta até um lugar ensolarado, respira profundamente e espera até que a absorção dos raios de sol pela pele te alimente.

Faça tudo sem pressa; saboreie o sol devagar. Se possível, consulte um bom entendedor em alimento solar, para saber a que horas o prato será melhor servido. Mas fique atento. Se perder a hora da refeição, vai passar fome até o dia seguinte.

Ainda não está convencido? Pense melhor. O propósito desta seita é buscar o etéreo, a leveza, a fluidez. E depois, seita é prá isso mesmo: fazer o paraíso chegar logo. Nessa, ele chega em uma semana. Até lá, você ganha a silhueta que sempre pediu a Deus.

Morreu o criptozoólogo

Falando em criptozoologia, aquela pseudociência que procura animais ocultos: morreu, no último dia 4, o homem que procurava o monstro do Lago Ness, vulgo Nessy.

Dan Scott Taylor Jr., o Criptozoólogo, chegou a construir um submarino amarelo (amarelo mesmo!) para procurar o monstro. Achou não. Mas nos fez lembrar dos Beatles.

Friday, August 05, 2005

Problemata esotérica

Fiquei pensando: se sabemos a data e a hora de nascimento do mundo, então já dá prá fazer o mapa astral da criança. Mas então esbarrei em uma dificuldade seríssima: qual é o local de nascimento do mundo?

A pergunta não é boba, não. Olhe só: o local de nascimento do mundo não pode ser no mundo, porque o mundo não existia antes do mundo existir, compreende? Pois então. O lugar teria de ser em outro lugar. Mas como poderia ser em outro lugar se todo lugar que há e pode haver está no próprio mundo, que está acabando de nascer?

Isto significa, então, que o lugar foi criado junto com o mundo e com o nascimento. Eu quero dizer: antes do mundo nascer, ninguém nascia. O mundo foi o primeiro, então com ele nasceu também o nascimento, no sem-lugar que deu lugar ao nascimento do lugar. Agora ficou mais claro?

Sendo assim, o problema todo pode ser resolvido de um modo bastante simples e, eu diria, até simplório: o mapa astral do mundo não pode ter as coordenadas do local de nascimento. Isto significa dizer que não é possível fazer-se um mapa astral preciso da criança.

Tudo bem. O que salva a lavoura é que já podemos saber se o mundo é taurino, capricorniano, canceriano etc. Onde nasceu, nunca saberemos, mas o bom da história é que isso nunca será um problema. No máximo, uma problemata.

Thursday, August 04, 2005

Não me convidaram prá essa festa

Perdemos a chance. No último dia 23 de outubro devíamos ter feito uma grande festa de aniversário, com bolos, balões, “parabéns pra você” e tudo o mais.

Quantas primaveras? Seis mil. Seis mil velinhas no bolo. Seis mil anos. 3.990.000 dias (sem contar os bissextos, mas deixa pra lá).

Quem seria esse aniversariante que completou 6.000 anos no último dia 23 de outubro? Quem nasceu em 23 de outubro de 4004 a.C., exatamente às 9 horas da manhã?

Muito bem, você acertou! Fácil essa, né? Quem nasceu há 6.000 anos atrás não foi o Raul Seixas, foi o mundo. Não o planeta, não a espécie humana, mas sim o mundo, o universo, tudo o que existe: 23 de outubro de 4004 a.C. às 9 da manhã!

Quem garante a data é o irlandês James Ussher, em livro publicado em 1654.

Aceito a data; vá lá. Mas não percebo o que teria levado Ussher a concluir que o mundo foi criado às 9 da manhã. Tá, entendo que o mundo precisaria ser criado durante o dia, em função da luz natural, mas por que às 9 exatamente?

Tuesday, August 02, 2005

Eu, tu, eles e o cão

Assim não dá.

Sou obrigada, por força das circunstâncias, a falar de Kierkegaard outra vez. O Severino Cemitério, lembra? É que fica difícil resistir. Gosto demais.

Enfim. Estive lendo recentemente o livro The Present Age (na verdade, um artigo um tantinho extenso) e encontrei uma passagem particularmente interessante e atual. Eu poderia resumir o livro dizendo que se trata da análise das relações entre o indivíduo, o público e a imprensa.

Kierkegaard diz o seguinte: o público tem um cãozinho de estimação, a imprensa, cuja função primeira é diverti-lo. Quando alguém tenta ser diferente, o público manda o cachorro atacá-lo. Quando se entedia, ordena ao cachorro que pare, e tudo volta ao normal.

E conclui: é assim que o público nivela.

Monday, August 01, 2005

Faraós e arraiolos

Encontrei esta passagem no tratado sofista anônimo Dissoi Logoi (ou Duplos Argumentos), escrito em torno de 400 a.C.:

"(17) Os Egípcios não consideram apropriadas as mesmas coisas que os outros povos: em nosso país observamos que convém às mulheres bordar e trabalhar , mas no deles é decente que os homens assim o façam; às mulheres, convém fazer o que os homens fazem em nosso país."

Esquisito... A passagem diz claramente que no Egito de 400 a.C. os homens bordavam e as mulheres cuidavam do mesmo que os homens gregos, ou seja, da guerra e da política.

O autor do tratado pretende defender o relativismo cultural, ao modo do que Heródoto já havia feito na História. Para comprovar sua tese, ressalta a diferença de costumes entre os gregos e os demais povos. É de se supor, portanto, que estivesse falando não somente do que era tido como verdadeiro, mas também sabido e notório.

Mesmo assim, é no mínimo bizarro supor que no Egito Antigo as mulheres lutassem ou governassem, e que os farós ficassem em casa (leia-se nos palácios) bordando. Não, não. Há alguma coisa errada aí.

Vai ver que a solução do mistério encontra-se no significado de "bordar".

Besta sou eu

Há pouco tempo atrás me aconteceu o máximo da coincidência: em pleno Carnaval, lá estava eu, aproveitando o feriado para lavar roupa. É, pois é. Lavar roupa. Acontece. Enfim. Continuando, pleno Carnaval e lá estava eu, no tanque, ouvindo rádio.

Lá pelas tantas, irritadíssima com a programação da rádio, que só tocava samba, pensei: “que festa besta; que coisa besta ficar cantando, dançando e caindo de bêbado; que gente besta, que música besta, que rádio besta!”. E a rádio começou a tocar “Besta é tu, besta é tu”...

Juro que aconteceu exatamente assim. Pensei: pior. Besta sou eu, que ao invés de me divertir no Carnaval, vou para o tanque... Besta sou eu, que devia ter colocado um CD pra tocar; besta sou eu, que fico aí, trabalhando em feriado e achando que besta é quem se diverte. Bem merecido. Quem mandou ser besta?