Sunday, June 19, 2005

Identificação datiloscópica de bruxas

Lembra da Maga Patológica e da Madame Min?

Pois é, os medievais juravam que elas existiam, viviam entre nós, faziam poções mágicas, eram malvadas, voavam e, o mais grave, transformavam homens em animais.

Esse povinho Wicca tem feito de tudo para provar que as bruxas existem (o que dá razão ao medievo), mas estou interessada mesmo é na técnica usada para separar o joio do trigo. Isto é, como saber com certeza se uma mulher é bruxa ou, digamos, honesta?

Esse é um problema masculino, claro, e vou deixar que os monges dominicanos Heinrich Kramer e Joseph Sprenger o resolvam. Eles têm dicas eficientíssimas para jamais perder a humanidade nas mãos de uma bruxa: antes de mais nada, verifique se a mulher suspeita tem olhos verdes. É um indício seguro de feitiçaria, sedução e perdição.

Se a mulher não tiver olhos verdes, isso não quer dizer nada. Pode ser bruxa assim mesmo. O diabo é ardiloso, viu? Procure então por marcas de nascença, especialmente marcas das mordidas do capeta no corpo da mulher sob suspeição. É para procurar mesmo.

Então. Não há olhos verdes e o corpo sob suspeita aparentemente não foi mordido. Resolvido o assunto? Coisa nenhuma! Tudo pode ser enganação, disfarce, maquiagem. O jeito é procurar o terceiro seio. Se houver, será bruxa com certeza. Se não houver, ainda assim pode ser bruxa. É preciso lembrar sempre que o diabo é enganador.

Frustrante: a mulher examinada não tem olhos verdes, não tem marcas de nascença e só tem dois seios. O que fazer? Desistir do assunto? Assumir que houve engano? Declarar a inocência?

Precisa não. Ainda há recursos. Passe logo para o momento seguinte: tente arrancar uma confissão sob tortura, mas faça o impossível para que ela não confesse antes. É que só uma confissão sob tortura é verdadeira. Quem confessa espontaneamente o faz por medo de ser torturado, entende?

Após tantos esforços, ainda não temos a prova inconteste? A mulher sob suspeita não tem olhos verdes, marcas de nascença, terceiro seio e, lamentavelmente, confessou antes de ser torturada. Não há ainda prova definitiva, irrefutável, absolutamente segura? Que pena. Mas ela é possível, sim.

Passe para o teste final: amarre uma pedra de bom tamanho ao corpo da mulher, que deve ser atirada com vida a um rio. Se boiar, você saberá com certeza que ela é inocente, e pode deixá-la ir em paz. Esta nunca o transformará em porco. Nem em corno, né?

Se for para o fundo do rio, é culpada. Claro, isso não tem nada a ver com o peso da pedra, mas sim com o peso da culpa. Vá para a casa em paz. Essa também nunca o transformará em porco. Nem em corno.

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Sim, Kramer e Sprenger realmente existiram e, em 1484, publicaram o livro intitulado Malleus Malleficarum (O Martelo das Feiticeiras, publicado no Brasil pela Rosa dos Ventos), de onde tirei essas orientações. Com a licença do estilo na descrição, é isso mesmo.

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